DESPEDIDA NUMA NOITE DE AGOSTO

Vaine  Darde

 

 


A tarde cai mais cedo no horizonte

porque sabe que te vais...

As estrelas vestirão ponchos de nuvens  esta

noite

e, de hoje em diante, as outras noites,

nunca mais serão iguais.

 

A tarde cai desconsolada

murmurando seu pranto incontido

no rumor da ventania.

Vaga pelo pampa um prenúncio de aguaceiro

que já vem riscando luzes

nublando de lágrimas o cristal da poesia.

 

Desaba um temporal no lusco-fusco

como se fosse a última tentativa do dia

de impedir tua partida.

Mas, tu te vais, pelo mundo grande,

procurar caminhos...

Em que noite inquieta, tu me deixas,

que noite triste pra ficar sozinho!

 

Todas as palavras são inúteis

para que eu te convença.

pois já não ouves o amor que te festeja

com cânticos de sanga sobre o catre

não te encontram a prosa musical

de cada mate.

E a poesia órfã, a pobre poesia

que nos teus pés rasteja.

 

O zaino está inquieto.

Há um alvoroço alvorotando o arvoredo.

O vento, em vendaval, violenta a várzea aflita.

E tu te vais...

É sempre cedo quando verga a última esperança

de quem amou além do medo

e, de repente, se acovarda

e teme e sente o açoite da distância.

 

Ah, por que me deixas numa noite de agosto?

Tu sabes que meu sonho te acompanha

nesta hora nupcial de sol já posto

quando os bichos se aconchegam na campanha.

 

Não haverá fogo capaz de proteger-me

da gélida solidão da tua ausência,

nem poncho que repare

a falta que me faz

o calor dos teus abraços.

 

Eu estarei só

abandonado a todas as distâncias,

condenado a todas as sentenças,

triste e só, triste e só,

descrente de todos os auxílios,

vivendo, na querência, o mais rude dos exílios..

 

É melhor que tu te vás.

Pois, terei, pelo menos, o consolo

de que estarás distante e estarei alheio...

Pior é sofrer a tua ausência

a todo instante de silêncio e indiferença

no convívio amargo

do amor partido ao meio.

 

Eu sentirei a tua falta

em cada noite de insônia na solidão do catre,

pois tua ausência viverá presente em mim

até que o coração me abandone...

 

Bueno,

se te vais,

o último ônibus para o povo

se aproxima da porteira

e a noite choraminga

sobre a quincha do capim.

 

Se vais embora,

que seja agora,

adeus!

Eu ficarei sem ti.

E pior que ficar sem ti,

eu seguirei sem mim.