AMIGOS

Ubirajara Raffo Constant

 

Meu irmão,

Ontem, na hora da sesta,

Quando em silêncio iniciava a tarde,

De boina vasca, palheiro e saudade,

Estava o velho quieto e pensador...

Na sombra larga das corticeiras

Onde as tambeiras fazem seu parador.

 

E me falou que às vezes quando olhava

Para a mangueira e para o redor das casas

E à restinga lá do sarandi,

Tinha impressão de nos ver crianças

E que nossa infância ainda brincava ali.

 

Ao recolher, assim, lá do passado,

Sua tropilha de recordações,

Vi acenderem no escuro de seus olhos

Estrelas claras de dois lagrimões.

 

Por isso,

Quando ao findar das tardes

Nos reunimos a matear os três,

Se perceberes nele alguma vez

O olhar distante e a expressão feliz,

Sigas mateando, não o perturbes,

Está sonhando que ainda somos guris.