Caudilho

Telmo de Lima Freitas


Num "ô de casa" sem jeito,
Chegava um velho caudilho,
Já de cavalo aplastado,
Pedindo para pousar,
Dizendo apenas que vinha
Trazendo gosto de sangue
Da mais renhida refrega
De toda a revolução.

-"Sobrei, não foi por covarde,
Apenas porque pensaram
Que este balaço no peito
Chegava para matar.
Não sabiam que a legenda
Que trago dentro de mim,
Quanto mais trompaços leva,
Mais ganas tem pra pelear.

-Pois venho batendo,
Sem saber aonde chego.
Talvez co'a cor do meu lenço
Não simpatize o senhor
Mas lhe digo sem rodeio:
Se for pra entregar as fichas,
Eu prefiro outra refrega
Seja da forma que for!"

Num olhar também cansado,
O caudilho morador
Respondia, com voz firme,
Que seu rancho era de paz.
-"Boleie a perna a seu modo,
Que eu também estou chegando
De camisa chamuscada
Pelas cargas que levei!"

 

Então se foi resbalando,
Sem escoar um gemido,
Tal qual um cedro copado,
Ferido bem na raiz.
Estendeu a mão calosa,
Testemunha de combate,
Ouvindo muito por dentro
Quando alguém dizia: mate!

E nessa hora a conciência
Falou mais alto que todos,
Lhe dando voz de comando,
Não permitindo matar.
O mesmo homem poupado
Era quem o recebia
Num rancho de pau-a-pique,
mandando desencilhar.

Foi então que as criaturas
Conversaram como gente,
Gerveavam na mesma cuia,
Num ato de contrição.
Dependuraram os lenços
Na tranca da mesma porta,
Pedindo aos santos clemência
Pra quem faz revolução