QUANDO UM GAUDÉRIO ALÇA A PERNA

Sergio Seretto

 

Parecem que choram os estrivos pendurados

e o pelego guacho já puído pelo tempo

Já não tem mais alegres bocas com sotaque

trocando o mate por um naco de sustento.

 

Aquela gaita que os botões tinham sorriso

se calou e não tem mais voz por sinuelo

E os cantores que cantaram quero-queros

agora cuidam destes campos já sem zelo.

 

Ficou mais triste o ranchito já escuro,

ficou pra trás alguns domingos de assado,

fica encharcado de lembrança algum baixeiro,

ficou o amigo, mais que amigo, o cavalo.

 

É só tristeza nos olhos do pingo baio

que não encontra mais o rumo pra o rodeio

o forte dos cascos hoje entende a distância

e o coração se parou mordendo o freio.

 

Foi um gaudério e quando vai não volta mais

deixou no rancho um pranto de solidão

seguir cincerros pra terra dos ancestrais

olhar nos olhos e apertar de mão em mão.

 

Talvez quem parte leva consigo um pedaço

seja do campo ou de alguém que se quedou

quem tem parceiros cria sina pra uma vida

e ceva mates na memória que ficou.

 

Quem sabem um dia eu também alce a perna

Neste lugar tão distante do meu pago

que são mais frias as noites e madrugadas

e que até o mais doce tem o gosto do amargo.