ALMA DE ESTÂNCIA E QUERÊNCIA

Sérgio Carvalho Pereira

 

Da gadaria faz silhueta a madrugada

Nas quatro quadras da invernada do branquilho

Rodeio grande, saltou cedo a peonada

Trazendo a lua na cabeça do lombilho.

 

A mim me toca repontar o fundo do campo

Na hora santa em que a manhã tira o seu véu

Levo na testa do gateado a última estrela

Que aquerenciada não quis mais voltar pro céu.

 

E o meu cavalo, que "lhe gusta" ouvir um silvido,

Olha comprido e pões tenência nas orelhas

Enxerga o gado e o assobio sai tão sentido

Que acende um sol num gravatá crista vermelha.

 

O boi apreende o chamado da melodia

E a gadaria pisoteia o santa-fé

Chegam no passo da restinga e uma traíra

Atira um bote á flor azul de um aguapé.

 

Olhando a ponta que encordoa pro rodeio

Cresce o anseio de viver nestas lonjuras

Bárbara é a lida do lombo dos arreios

Alma de campo é a bendição destas planuras.

 

Já me disseram que se acabam as invernadas

Que retalhadas marcam o fim desta existência

Mas trago a essência e a Constância de um olho d'água

E a alma penduada com sementes de querência.