UM TRIBUTO A DOM AJALLA

Sebastião T. Corrêa

 

De São Borja, uma legenda,

Que a mãe fronteira pariu,

E que, aos poucos, dividiu,

Com as pátrias do continente

No perfil irreverente,

Talhado ainda bem moço,

O sangue, um rio em alvoroço,

Bufando pelas artérias,

E ao alto da estampa séria,

Um lenço atado ao pescoço.

 

Bem cedo marcou presença,

Nos ranchos e pulperias,

Esvaindo-se em poesia

Pra sede de tanta gente;

Um manancial resistente

Que os anos jamais secaram,

Pois dos versos que brotaram

Em suas cantigas de aboio,

Cresceram tantos arroios

E tantos rios se formaram.

 

Riscou o lombo da história

Contando a saga da raça,

Quando o gaúcho se abraça,

Ao ato frio das adagas;

E, no implacável das chagas,

A coragem redobrada...

A bandeira desfraldada

Com ideais de liberdade;

Pois... a serenidade,

Das armas ensarilhadas.

 

Versejou sob protesto

Quando, num clube social,

Foi barrado no local

Por calçar um par de botas,

Tirou acordes e notas

Pras canções do nativismo...

Na mensagem, o atavismo,

Que o gaúcho traz por lema;

E as letras de cada poema,

Repletas de telurismo.

 

Os versos do maragato

O Chico, o pobre do louco,

Cada um de nós tem um pouco

Dos sonhos desse coitado;

E o tal lenço colorado

Que ele tanto queria,

Igual boca de sangria,

Tenho, pra mim, que é o destino,

Que muito índio teatino

Só encontra no último dia.

 

A farda por distintivo,

E o Rio Grande por bandeira,

O berço, a velha fronteira,

Nas barrancas do Uruguai;

Na garganta, um sapucaí,

No coração sentimentos,

Frouxando os últimos tentos,

No pealo dado a preceito,

E palanqueado no peito

Da prenda de Livramento.

 

Trançou carícias em rimas

Acrósticos e sonetos

Criaram juntos, duetos,

Entre os dois, as parcerias,

Mas, a mais linda poesia,

Tirada ao som de uma lira;

Brilhante como a safira

Suave como uma brisa;

É a vida que se eterniza,

No amor de sua Aldira.

 

É hoje, patrão da estância,

Onde um rodeio de poetas

Buscam cacimbas repletas

Pra secura de suas almas;

E com a mais pura das almas,

De quem vive sem ter pressa

Serve a todos, recomeça,

A cada dia que nasce

É como se acreditasse,

Que essa fonte nunca cesse.

 

Estácio Ariju dos Santos

Quintilhano do Jaú,

É laço de couro cru

Que Deus lonqueou com desvelo,

Para que fosse um sinuelo

Tal como a estrela boieira,

E lá dos céus da fronteira

Brilhasse bem mais distante


Orientando os viajantes

Fachos de luz fogoneiras.

 

O Rio Grande hoje se une

Para prestar reverência

A este filho da querência

Gaúcho de alma reta

Á sua obra completa

Por certo ninguém se iguala

É a pampa em traje de gala

Ofertando um relicário;

Os feitos de José Hilário;

-Um tributo a Dom Ajalla!