UM CHASQUE PARA MARTCELL

 Sebastião T. Corrêa

 

Vejo descendo a canhada

Um tordilho nevoeiro,

Num tranco largo, faceiro,

Estampa quarto de milha

Assobiando sobre a encilha

Um gurizote campeiro

Vislumbro sob o sombreiro

O Rio Grande em miniatura

Pois a pequena figura

Que frente a mim se agiganta

É o pago que se levanta,

Multiplicando a estrutura.

 

E quando boleia a perna,

No abraço que nos irmana,

Vibra a alma campechana

Em perfeita identidade,

Pois se abraçam, na verdade,

Diferentes gerações

Unidas por tradições

Que o tempo não modifica;

Somente a cultura explica

E a história reverencia

A singular geografia

Que o gauchismo unifica.

 

Sinto a emoção nesta hora

Tomando conta de mim

Ao ver um guri assim,

Cruzando a pampa a cavalo;

Pra mim é mais que um regalo,

Me orgulho em ser teu amigo,

E quero, junto contigo,

Reescrever nossa história,

Recompor a trajetória

Dos nossos antepassados,

Pois quem herdou seus legados

Guardará sua memória.

 

Bisneto de Lavra Pinto,

Tens o Rio Grande por lema;

És parte, do mesmo poema,

Que o velho Lavra escreveu,

E a missão que Deus te deu

Nesta jornada terrena

Por certo não é pequena,

Pois tens muita fidalguia

Do campeiro, a simpatia,

E a pura hospitalidade

E tens sensibilidade

Pra entender uma poesia.

 

Em cada vez que te vejo

No tordilho nevoeiro

Enxergo o Rio Grande inteiro

Formando linda figura;

A mais perfeita escultura

Talhada por mão divina,

Quem faz do arreio uma sina,

É livre por excelência

A liberdade é a essência

Onde repontas anseios,

A recorrer os rodeios

Espalhados na querência.

 

Quero que saibas, parceiro,

Que vejo em ti o simbolismo,

Do mais xucro nativismo,

Herança da pátria Pampa;

Admiro tua estampa

Por tudo que representa,

Meu coração se contenta

E salta dentro do peito,

E ao ver-te assim, deste jeito,

A cavalo e bem pilchado,

O Rio Grande engalanado

Já se dá por satisfeito!!!