TROPA DE ANSEIOS

Sebastião T. Corrêa

 

            I

Quando, nas tardes, sento para o mate

Dou rédeas largas aos meus versos potros,

E uma saudade danada então me bate

De outras paragens e de tempos outros

 

Qual boi carreiro, vou remoendo mágoas,

Acumuladas pela vida á fora,

No rosto, o sulco das vertentes d’água,

No peito, a armada que me aperta agora.

 

Um dia o moço, de horizontes n’alma

De mão campeira, caleijada, palma,

E uma vontade de engolir distâncias,

 

Então o mundo transformou-se em estradas,

Que se alongam pelas madrugadas,

E onde solito, repontava as ânsias.

 

            II

A mocidade foi assim, vento minuano.

Quando entoei coplas, timbradas no assovio,

E, como vento, caborteiro e aragano,

Tal como veio, num sopro se sumiu.

 

Que pena, a gente só vai se dar conta,

Que o tempo voa, quando é muito tarde,

E como sabe que ninguém lhe afronta,

Vai nos vencendo, sem fazer alarde.

 

Mas é assim, e cumpre-se o mistério.

Passar o tempo pra vida é um critério,

De quem precisa forjar-se na experiência.

 

E eu que andejei, na sina de estradeiro,

E que pensei, do tempo ser tropeiro,

Hoje sou tropa, na ronda da ausência.

 

            III

 

Agora há um rancho entre mim e a estrada,

E há o cansaço dos verões no lombo,

E um frio de inverno desta encruzilhada,

Não alço a perna pra não levar tombo.

E quando o mate vai roncando grosso,

Sinto as narinas ir se avolumando,

E como os potros, arqueio o pescoço,

Já não percebo que só estou sonhando.

 

Um dia, ainda, parto novamente,

Vou estradear no rumo do poente.

Esta é a maior de todas as certezas,

 

Há um turbilhão a me incendiar a alma,

Não posso ser remanso de água calma,

Se os meus anseios são de correntezas.