RAÍZES DO TEMPO

Sebastião Teixeira Correa

 

Olhei o tempo, pelo vidro embaçado

das retinas,

onde uma nuvem, mansa, de neblina,

aquerenciou-se, sem pressa de ir

embora...

 

Olhar o tempo e enxergar a própria

estrada;

é ver nos rastros a força das pegadas,

na saga de traçar a própria história!

 

E assim, eu pude ver, lá... bem

distante,

um campo largo, e a cruzar risonho

num flete alado, galopando sonhos,

um pequeno guri, de olhar radiante.

 

De calças curtas... pés descalços...

camisa aberta, esvoaçando ao vento;

Ah! Liberdade! Como é feliz esse guri,

por certo

que são felizes todos os  libertos,

porque é liberta a felicidade.

 

Adiante, um pouco, eu vi surgir um

moço,

pilchas de gala e lenço no pescoço,

entonado no mas, de alma gaudéria;

guapiando potros, pelos tironaços,

zombando a sorte, e nos sofrenaços

vibrando o sangue rubro das artérias.

 

Eu vi o moço, outrora vaqueano de

muitas jornadas,

perdido, vagando, sem pilchas, sem

nada,

na fria calçada de um mundo em

concreto...

 

As changas do povo não são para os

tauras,

que apenas entendem de domas, de

maulas,

e as lides campeiras, que os fazem

completos.

 

Então, não mais vi...

apenas senti a dor e a tristeza que o

moço viveu,

changueando misérias, curtindo

lembranças,

perdendo a esperança de um dia voltar

ao chão que era seu.

 

À sombra dos ranchos, sombrios, meio-

águas,

os goles de mate, são goles de mágoa,

que as ervas caúnas amargam ainda

mais...

 

O pago terrunho é apenas saudade;

A vila é seu mundo e a realidade

que sangra nas folhas de muitos jornais.

 

Que pena! A distância hoje me separa

do meu primeiro flete, de taquara,

mas, que tinha em si, minha lama de

menino.

 

E repontava as tropas “faz-de-conta”

pras sangas mansas, onde cada “ponta”

sorvia um pouco desse meu destino.

 

Mas, nesse tempo, havia águas limpas

e uma pastagem, que era grama e terra,

e havia torenas e se fazia guerra

pra defender a honra da querência;

 

Por isso, é tão difícil aceitar, que agora

hajam gaúchos dobrando os joelhos às

invasões de fora,

rasgando a história, que legou a crença.

 

Não deixem morrer a nossa cultura,

que é seiva tão pura, com cheiro de chão;

Façamos dos palcos, “as tropas reiúnas

que infestam os costumes do nosso rincão.

 

Que todo o xucrismo da nossa poesia

entoe cantigas de um novo alvorecer,

pra que meus olhos, nublados pelo tempo,

possam ainda ver, guapiando tentos,

a bravura da pampa renascer.

 

Que diacho! A injustiça campeia na

pampa,

e há outra neblina cobrindo os olhos dos

nossos iguais;

Estão nos roubando e ninguém se

levanta!

 

Estão acabando com nossas raízes,

estão nos trocando por outras matizes,

não deixem que matem os nossos

ideais!!!