HERANÇA TROPEIRA

           Sebastião Teixeira Correia

 

A trilha guardou a história

Daqueles que abriram a trilha,

Desenhando geografias

Pelos rumos dos cargueiros;

Das terras de Santa Fé

À distante Sorocaba

( O mesmo ideal de tropas,

O mesmo instinto de andejos

E anseios de liberdade),

Mamelucos e crioulos

Plantaram ranchos, pousadas,

Pra verem nascer estradas,

Vilas, povoados, cidades.

 

Por mais de duzentos anos

Portugueses, castelhanos,

Ignorando as coroas

Que peleavam por fronteiras,

Tangiam tropas, vendiam,

Compravam, faziam trocas

De mercancia e de cultura;

Geravam proles mestiças,

Misturando a cor da pele,

Os costumes e o sotaque

Herdados das línguas mães.

 

O ciclo do tropeirismo

Forjou a estirpe biriva,

Numa saga de civismo

De uma linhagem nativa.

 

Cristovão traçou a rota

E a tropa seguiu sozinha,

Ao rastro da égua madrinha

Do primeiro madrinheiro;

Digo mal, seguiram junto

Os peões, o cozinheiro,

Batedor e contador,

O patrão e o capataz,

E todos eram tropeiros –

Hoje tudo é diferente,

Mudou o curso da história,

Já é outra a trajetória:

É o ciclo do modernismo.

 

Não há mais tropas de mulas

Desbravando continentes;

Daqueles homens valentes

Que habitaram esta querência,

Gaúchos por excelência,

Mescla de sangues e origens,

Resta uma nesga de mundo

Por onde as tropas passaram,

Que, com o tempo, enraizaram

A sua própria cultura.

 

Me orgulho em ser descendente

Desses tropeiros de outrora,

E carregar, vida a fora,

O gauchismo no gen;

-       O meu avô foi biriva,

Meu neto será também!