Ah! Se os Poetas Falassem de Flores
Ruben Alves Vieira
Ah! Como eu queria
Ver os campos cobertos de flores.
Os poetas falassem de amores.
Só de amores.
Mas, também falam de penares,
Que invadem os lares
Causando mágoas e dores.
E, o guri que voltava da escola,
Mui contente e pachola
Trazendo pra mãe, um buquê de flores.
Flores do campo coloridas.
Com um sorriso cheio de vida,
O guri.
Donde se esconde seu sorrir?
Outros ainda haverão de vir?
Os pássaros voavam na primavera,
As borboletas pousavam nas flores
Que cobriam de cores,
Enchendo de odores a tapera.
Uma sanga, água limpa,
Um pocito onde o guri brinca
Entre cardumes de lambaris.
Este é o mundo do guri.
Um mundo de encanto e harmonia.
Que povoava o fim do dia
Antes de em casa chegar.
Um mundo que tinha para ofertar,
Colher e entregar
Flores à mãe com alegria.
Brincava de tropa de osso,
Tinha um potro de taquara,
De pelagem malacara
Na sua imaginação.
Já tinha deixado do bico
E até dormia sozinho
Sem medo da escuridão.
Escutava prosas no galpão
Sentadito num pelego,
Nem demonstrava ter medo
Dos causos de assombração.
Ah! Como era faceiro o guri.
Podia andar por aí
Corcoveando e dando risada.
Brincando com a terneirada
Como se fosse um peão.
Mas, nem tudo é harmonia
E, o tema da poesia
Se transforma no penar.
O guri que vi brincar,
Com olhos cheios de vida
E, sorrindo ao fim do dia
Partiu...
Qual a harmonia de seu mundo,
Foi pra um mundo diferente,
Deixando recuerdos pra gente,
Saudade e lembrança
Do seu rosto de criança
Que radiava felicidade,
Pra colher flores na Eternidade
E, levar um buquê à Virgem Maria.
Ah! Se os poetas
Falassem só de flores...
As flores que a mãe leva pro guri.
E, que as gotas não são mais do sereno,
Pois, molharam o rosto moreno
Antes de nas pétalas caírem,
Pois, da vertente dos olhos surgiram
No puro amor e afeição,
Regadas no pulsar do coração,
Que se mescla a penares e dores.
Ah! Se os poetas falassem de flores
Só de flores...