HORIZONTES LARGOS

Pedro Júnior da Fontoura


Enquanto espero chiar a água
viro com calma a erva do mate
dando rédeas ao pensamento;
Que ultrapassa fronteiras
e cruza os limites xucros
do meu jovem coração...

Vou sorvendo o chimarrão
a longos goles amargos
na solidão dura e fria
deste final de tarde
na prisão do apartamento.

Nem sei o que é mais amargo.
Se o chimarrão ou a vida
que machuca de saudades
um campeiro que sonhou
em construir rumos novos.

A ilusão muitas vezes
nós afasta de nós mesmos...
Mas constrói sonhos suando
e fazendo calos nas mãos
por certo, descobre horizontes
que só mesmo a estrada ensina!

Sonharam também novos rumos
os imigrantes que vieram
semear o grão na terra
para alimentar ideais...

Não encontramos portanto
os caminhos já abertos.
Porém, com coragem e fé
trabalharam sem descanso
abrindo picadas largas
pra quem chegasse seguir!

E mesmo sendo difícil
jamais se desanimou...
Quando se ama de verdade
a distância não separa
e o infinito é logo ali...

Por isso talvez que hoje,
correm pelo meu rosto
essas lágrimas gaúchas
enquanto tomo meu mate.
E é triste matear solito.


Meus olhos criam imagens
e bem dentro, cá no peito
um coração em disparada
me lembra potros no mais.

A cuia ronca pedindo água
imitando criança que chora
quando quer alguma coisa...

Lembro bem da minha infância
quando corria descalço
pelo tapete do campo
buscando essência na terra!

Hoje...
Bem no centro da cidade
só resta um retrato tímido
com moldura na parede.
Mas sinto ainda,
cheiro de campo e berro de bois...
nesta consciência que herdei
dos tempos que já se foram.

O sol desponta aos pouquitos;
Os compromissos me chamam
e eu insisto em matear.
Cada
gole que eu sorvo
traz a essência do pago
me pedindo pra voltar!

Quem deixa raízes na terra
pode estradear muitas luas
mas volta regar a planta.
Por isso hoje me vou
de malas, erva e cuia
colher decerto alguns frutos
e semear novas sementes
para alimentar os andantes.

E quando os horizontes largos
Me pedirem pra partir.
Vou cevar outro amargo
para oferecer aos que chegam
e seiva do amor maior...

Não mais matearei sozinho
porque dividir o pão
é alimentar a própria alma!