DEPOIS DO ÚLTIMO APITO

Pedro Júnior da Fontoura





 


Depois do ultimo apito
a estação ficou só
Digo melhor: Quase só.
Remoendo suas lembranças
No seu baú de memórias.

Ficou também um servente
dando os últimos reparos
e sem que a estação percebesse
tal e qual a o trem, partiu...

De manso caiu a noite
E um silencio profundo
Invadiu a estação...
Parecendo o compreender
Quanto nos faz sofrer
essa tal de solidão!

Um vento que vem do Sul
brinca com papéis no chão...
o dia parece triste!

Quando o sol no fim da tarde
já ameaça partir,
um apito rotineiro
rasga silêncios no campo.
É o trem que vem chegando
para repetir o ritual;
Os olhos da estação saltam
com um brilho sem igual.

Quem será que vem no trem?
Será que traz novidades?
Ele chega e já se vai,
já se vai... porque amanhã chega
E segue o mesmo silêncio
Com jeito triste de só...

Comentam os mais antigos
Que, sempre, todos anos
desembarca por aqui
uma tal de primavera...
E o mais interessante
é que todos gostam dela.

Até as flores se ajeitam
quando sabem que ela vem,
soltam um aroma gostoso
que se espalha pelo ar...
As crianças jogam bola
e as velhas fazem tranças
além, de as flores regar.

A primavera desembarca
e a estação solta um sorriso
que contagia o lugar.
O tempo passa depressa.
O trem chega e o trem vai.

A paisagem sempre é linda
quando existe paz interior,
os pássaros com os seus cantos
em serenatas de amor,
na poesia cotidiana
inspiram a Dona Flor...

A estação ganha vida.
O servente ajeita o jardim.
Enamorados casais passeiam
num amor que não tem fim.

A primavera ajeita as malas
se despede da estação...
Embarca no trem das seis
faz um aceno com a mão
e, quando tudo parece triste
de manso chega o verão.

Desembarca meio tímido
num fim de tarde espichado...
O sol insiste em ficar.

O verão,
com um ar de irreverência
dizem, que adora passear
usa roupas coloridas
canta e gosta de tocar.
Parece que é um bom cantor
enfim movimenta a estação
faz poemas, distribui flor
nunca tem hora pra nada
e é muito madrugador....


O trem vem com mais freqüência
trazendo gente do povo
nessa época do ano;
Mas comigo tempo não para
chega o trem na estação
e leva gente para o povo
seguindo junto o verão.

O trem chega o verão vai
o trem vai, o outono chega...

É nessa estação
que as flores dançam
movidas pelas suaves notas
tocadas na voz do vento.

E enfeitam o chão
Tingindo-o com a cor do ouro-preto,
formando um belo tapete
para os duendes dançar.

A estação do trem perdeu o brilho...
o movimento caiu e,
nem o servente ficou.

Bateu no mundo a saudade
que resta das despedidas...
Mas sempre existe um reencontro
Porque amar é preciso!

O tempo passa depressa
o trem chega e o trem vai

Calou-se o canto dos pássaros,
as árvores agora,
parecem desfilar nuas.

O outono vai sorrindo
chega o inverno
com o ar sério...
Muitos livros na bagagem
e trajando o mesmo terno.

Passos lentos, olhos longe...
o trem vem muito lento,
devagar não se vai longe.

Chove muito na estação,
o dia não quer passar.
O vento assopra com força
uma linda canção de amor.
E eu,
que preciso guardar linhas
para cuidar da saúde do trem
e os que vem no trem...
”Não sei... Não sei....
Se vou com o trem
ou se fico com o inverno na estação.
Se sigo a razão, ou a voz do Coração.
Não sei... Não sei...
Se colho ou se volto a semear
Se vou pro campo ou pro mar...
Não sei... Não sei...
Só sei,
Que depois do último apito
a estação ficou só.
Digo melhor: – Quase só!