CHAPÉUS DE PALHA

Pedro Júnior da Fontoura

 

E chegaram de além-mar

trazendo esperanças na mala

e um novo brilho no olhar.

 

Com os seus chapéus de palha

foram semeando o chão

pras colheitas do futuro

transcender a imigração.

 

Giuseppes, Pietros, Giovannis,

Biancas, Elviras, Therezas,

pátria, raiz e certezas.

Italianos sim senhor.

Mãos prontas para o trabalho

pros sonhos do semeador.

 

Vieram pro alto da serra

levantar os parreirais

multiplicar as sementes

correr igual as vertentes

repletas de mananciais.

 

Na história do continente

foram deixando suas marcas

como as rugas desta gente

que o tempo jamais apaga.

 

As mãos que semearam a terra

trançaram a palha do trigo,

da "dressa" os chapéus de palha,

muito mais que um abrigo.

E as cestas fortes de vime

como firme a própria estampa

uma "impíria" pra colheita

da safra que se levanta.

 

E trouxeram suas cantigas

para as noites de "filó",

em "la estrada del bosco",

"barselete" de riso e dó,

um punhado de alegria.

Trouxeram a simpatia

e o espanto de ficar só.

 

O gosto simples da polenta

receita antiga da nona,

é algo que me emociona

recordando tempos idos

por estes fogões vividos

entre esporas redomonas.

 

Abrindo horizontes largos

os italianos chegaram

e os caminhos se alargaram

para a integração dos povos.

 

As mulas e seus corcovos

tudo com luz de lampião

foi começando a cidade

no berço do barracão.

 

E com seus chapéus de palha

vieram de além-mar,

trazendo esperanças na mala

e um novo brilho no olhar.

 

O tempo com seus invernos

geadas pelas melenas

viraram bustos nas praças

e oração nas novenas.

A fé continua a mesma,

também é a mesma estrada,

pros olhos horizontais

desvendando parreirais

na terra que beija a enxada.

 

E nós herdamos o brio

dos imigrantes altaneiros;

e também somos guerreiros,

também somos vencedores,

igual aos avós semeadores

somos ítalo-brasileiros.

 

E da semente pequena

veio o fruto da vitória

com os seus chapéus de palha

escreveram uma outra história

E o chão se frutificou

nas próprias mãos do semeador,

e hoje o tempo é de paz,

fartura, honra e amor.