PRA MENINA DO RETRATO

Paulo Ricardo Costa

 

Quando o poncho da saudade,
Reveste os sonhos antigos...
Uma lembrança pede abrigo,
Nas portas de um coração,
As horas quietas, de solidão,
Vão punhalando minh’alma,
Trazendo a noite mais calma,
Pra o santuário de um galpão;

Quebra-me o vidro dos olhos,
Embaçados de água e sal...
Vivendo o mesmo ritual,
Das horas longas de mate,
Antes que a noite maltrate,
Na viuvez do seu negrume,
Trazendo-me o teu perfume,
Pra solidão do meu catre;

Sentado à beira do fogo...
Onde o silêncio se abriga,
Uma saudade me castiga,
Talhada a aços de esporas,
Que até a sombra implora,
Com a amargura das águas...
Correndo gotas de mágoas,
Num par de olhos que chora;

Vou encostando os “tição”...
No bailado das lavaredas,
Que parecem fiapos de seda,
Se entrelaçando ao brasedo...
Talvez guardando segredos,
De alguma noite sem sono,
Quando solito, no abandono,
Eu chimarreava mais cedo;

Lá fora, só há o silêncio...
Deitado aos pés da geada,
Vestindo de véu e grinalda,
As copas das pitangueiras,
Se a noite vem derradeira,
Trazendo coplas no vento,
Milongueando um sentimento,
Que guardei a vida inteira;

Pelas cordas dos aramados,
Vidreiam gotas cristalinas,
E um candieiro te ilumina,
Na moldura de um retrato,
Talvez mais do que um fato,
É uma paixão campesina...
Quando os olhos da menina,
Têm estampas de um relato;

Então vejo no teu sorriso,
O mundo que eu nunca tive...
Um romance em mim revive,
Como se o tempo não passasse,
Meu coração num impasse...
Às vezes grita e se aquieta,
Pra fingir-me de ser poeta,
E num poema, te amasse;

Por tanto às vezes escrevo,
Falando as coisas que sinto,
Pra o coração nunca minto,
Pois o que vale é a verdade,
E quem não sente saudade...
Talvez esteja condenado,
Porque os amores guardados,
É que trazem a felicidade;

Por isso guardo um retrato,
Pra não perder tua lembrança,
Embora saiba que a distância,
No tempo não se perdeu...
O que foi lindo não morreu,
Embora estejas com alguém,
Só sei que nunca, ninguém,
Terá amor maior que o meu;