NO TEMPO DAS CARRETAS

Paulo Ricardo Costa

 

No tempo das carretas até o tempo era diferente...
As casas, já pareciam terem nascidas velhas,
Com moças debruçadas nas soleiras das janelas,
Invejavam os jasmineiros, entre Rosas e Camélias;
No tempo das carretas tudo andava lentamente...
Até as horas eram marcadas pelo compasso do sol,
As madrugadas bocejavam pelo cogote dos cerros,
E o serenal tapeteava os ponchos de Maria-mol;
O homem tirava da lida todo o sustento da casa...
No coice forte do arado fazia vergas no rosto,
Vendo uma penca de filhos pela Mãe serem educados,
Onde a palavra respeito saia da boca com gosto;
As estradas eram longas e os corredores apertados,
Os sonhos eram tantos que se perdiam na memória,
E ao tranco lento das juntas numa carreta empoeirada,
A vida abria picadas para os anais da história;

Há! No tempo das carretas, não havia tempo pra luxo,
E um homem dava valor às pequenas coisas da vida.
A Palavra empenhada valia mais que um contrato,
E os sentimentos guardados era o sustento pra lida;
As portas abertas pra’o mundo no balançar das tramelas,
Destrancavam as angústias que o progresso trazia,
E o passo lento do boi já não servia para nada...
Pois o mundo tinha pressa pra evolução que surgia;
O carreteiro esquecido foi se perdendo na solidão...
Os filhos foram embora nas estradas de cimento,
As carretas viraram enfeites nas paredes dos museus,
E os homens distanciaram dos seus próprios sentimentos;

Hoje o mundo tem pressa, não há mais tempo pra nada,
Não há um aperto de mão, nem o calor de um abraço,
Não há uma palavra de carinho, nem mesmo um afago de Pai,
Hoje até um filho te trai e os amigos andam escassos;
Não sei se eu que estou velho ou é essa tal de saudade,
Que faz o peito da gente buscar nas coisas do passado,
Àquele tempo guardado na lentidão da memória...
Que um dia fez a história, nas linhas deste legado;
Eu sei que as coisas mudam que até o tempo tem pressa,
Mas que a vida me entenda e não me condene à maleita,
Pra encontrar na minha velhice, o tempo bom que se foi,
E possa eu morrer, ao tranco do boi, sob um toldo de carreta;