A LÁGRIMA

Paulo Ricardo Costa

 


É a dor que vem da alma,

Em gotas de água e sal...

Que escorre pelo fio das pupilas,

E se derrama como um rio,

Submerso às entranhas da dor.

Que faz o vivente mais bruto,

Quedar-se diante de si,

E na relíquia destes cristais,

Sentir-se um pouco mais humano.

 

A lágrima é mais que magia,

É a forma doce do amor...

Que vem em gotas de pranto,

E transborda seu remanso,

Com força de corredeira,

Onde os olhos são cachoeiras,

Deste rio que há em nós,

Que sai em busca da foz,

Para novamente ser mar;

 

Por isso que ela é salgada,

Por isso que ela é cristalina,

Pois a lágrima jamais termina,

Nem que chore a vida inteira,

Sempre haverá uma gota,

Pra mais singela ocasião,

Transbordando do coração:

Mar e coração são infinitos,

E chorar é o que faz bonito,

Diante da luz do perdão;

 

Quem disse que os fortes não choram?

Quem disse que chorar é fraqueza?

Basta olhar para a natureza,

Onde até os bichos imploram...

Talvez num jeito animal,

Que só de pensar me arrepia,

Vendo uma cena bravia...

Da morte que vem na parelha,

Onde até um touro se ajoelha,

Chorando a dor, da sangria;

 

Por isso que às vezes choro,

E chorar até me faz bem,

Porque me solto das amarras,

Que me prendem a ignorância,

Se, aprendi quando criança,

Que homem que é homem não chora,

Alheio a própria razão...

Da vida maula que medra,

Só não chora, quem tem uma pedra,

No lugar de um coração;

 

Pois não há forma mais doce,

Quando um amigo abraça chorando,

Ou um coração se aliviando...

Num adeus de despedia,

Vão cicatrizando as feridas,

E a lágrima parece que cura,

A dor mais triste das criaturas,

Que se fecham no seu luto;

 

O luto que a noite retrata,

Fechada em véu de negrume,

Mas ainda traz o perfume,

Que inunda campos e matas,

Fazendo me dar por conta,

Quando a lua some de vez,

Que o céu também é pequeno,

Goteando lágrimas de sereno,

Da noite chorando a viuvez;

 

Então porque não chorar?

Porque não se inundar de pranto?

Se a lágrima tem o poder,

De lavar as almas pecadoras,

Que se acham defensoras,

Desse barbarismo cruel...

Que ainda existem ao nosso lado,

Se até Cristo, crucificado,

Chorou as lágrimas de mel;