A DOM INÁCIO

Paulo Ricardo Costa

 

Dom Inácio foi campeiro,
Foi tropeiro e changueador,
Foi guerreiro e peleador...
Foi posteiro e capataz,
Semeava léguas de paz,
Da vida rude e macabra,
Depois de dar a palavra,
Por nada voltava atrás;

No silêncio da coxilha,
Adonde fez seu reinado,
Ergueu um rancho sombreado,
Por braços de cinamomos,
Para passar os outonos...
Entre o Itú e o Espinilho,
Junto da mulher e filhos,
No aconchego do seu trono;

Um dia explodiu a guerra,
Pelos campos do Rio Grande,
Deixando carne com sangue,
Em cada palmo de chão,
Era irmão matando irmão...
Em vinganças desenfreadas,
Com famílias dizimadas,
Nesta tal de revolução;

Vinha o eco da tirania,
Pelo Sul deste Brasil,
Fazendo o berro do fuzil,
Calar a lança e a adaga,
Em cada vida que se apaga,
Com a gana dos infiéis...
Erguem brindes aos Coronéis,
E a ganância se propaga;

Dom Inácio foi chamado,
Para mais esta empreitada,
Deu adeus à mulher amada,
Encilhou bem o tordilho...
Trouxe o genro e o filho,
Mais uma frente guerreira,
Pra num Capão de Laranjeira,
Calar a voz de um Caudilho;

Ele só queira justiça...
Destas que a história apaga,
Teve estaqueado na adaga,
Um Coronel, dos “oposto”...
Olhando bem no sue rosto,
Com alguns instantes de paz,
Mostrando que são iguais,
Independente do Posto;

Esta é a verdade que clama,
Pra quem deturpa a história,
Dom Inácio, hoje é memória,
É tento forte de um laço...
Cruzando o tempo e o espaço,
Para quem segue seu rasto,
Há três cruzes sobre o pasto,
Nas barrancas do Caripasso;

Diante delas que me ajoelho,
Num silêncio de oração...
Tentando encontrar razão,
Pra esta alma impertinente,
Como pode, no presente?...
Onde a vida tem um custo,
Dom Inácio não ter um busto,
Para a memória desta gente;

Talvez um dia, ainda veja,
Um monumento erguido...
Pra que não sejas esquecido,
Nesta Pátria Riograndense,
Se, esta terra, nos pertence,
É porque num tempo atrás,
Alguém peleou pela paz...
Neste torrão Assisense;