TROPA INCERTA

Paulo Edson Paim

 

Brota nas veias do céu...

uma nova aurora, que aflora plena de brumas.

E a noite, que fora longa e calma,

vai se dissipando e anunciando...

um misterioso dia que pouco a pouco nasce.

 

Nos cantos das casas e dos galpões...

assovia intensamente um minuano bravio,

dando certeza e sinal... de tempos de vendavais,

de imponentes e cinzas névoas

que conseguem, com sagacidade,

ocultar, sem piedade, a presença do sol.

 

Os galos despertam peões e cavalos.

O mate correu tal qual os  ventos.

Cavalos inertes, peões e encilha-los.

 

Depois...Prenunciando outra tropeada...

emprumados seguem... em direção aos campos.

 

A tropa...só nos capões e restingas

o vento segue e o sol não brilha.

A sabedoria do viver campeiro ensina,

que com minuano não há gado nas coxilhas.

 

Junta-se a tropa, boi a boi...

e todos rumam para cumprir estrada...

 

Abrem-se os portões...

e o gado, por eles, passa pra ganhar o corredor.

Nos olhos dos bois e dos campeiros,

uma vivacidade e uma luz inigualáveis.

os homens por estarem começando a lida,

e os bois, por não saberem para onde vão.

 

e as histórias vão fluindo,

A geada, a maior do ano.

O terneiro de duas cabeças...

A prenda da casa da beira da estrada...

A laçação, a gineteada, a assombração.

 

E vão tropeando... e passeando e vivendo.

A vida, para um campeiro, é um trotear de cavalos,

que dá para ver e sentir passar, sem volta.

E os passos para a tropa é a rotina,

amena tal qual a tare, serena como a noite.

De cada passo em cansaço e uma força pra seguir,

pois deixar o chão pra traz é a vitória da tropa.

 

E assim seguem em caminhada ritimada.

Os bois a procura de um pampa vasto.

Os cavalos... olhos inundados de luz:indescritíveis!

E os tropeiros a repontar seus sonhos.

 

Cada vida e seu destino.

E nesse incerto plano cada passo ´[e essencial.

 

Mas há que pensar e pôr a mão na consciência:

Que parábola intrigante e desiguala vida cria e revela e sustenta!

 

Pois o tropeiro,  mal ou bem é verdade,

Vai traçando seus tempos e sabendo...

Que afora os imprevistos e as saudades,

É impossível colher o que não se planta.

 

Enquanto seus bois passam seus dias,

Entre as cercas, ventos e sóis,

E de repente...escancara-se os portões...

E a estrada, então, é um novo labirinto!

 

Parece não ter início nem fim a estrada...

Para os animais, um manancial de sendas.

 

E estradeando em passadas lentas,

Os bois olham os campos,

Berram como de saudade de um lugar qualquer.

Trilham pelos corredores, entre cores e dores,

E um oceano de mágoas se vão imergindo...

De cada instante, uma dor desperta.

Por certo é a dor da angústia de uma tropa incerta,

De não saber para onde está seguindo...