Devaneio

 Paulo de Freitas Mendonça

Quando o horizonte límpido
se emponchou de nuvens
Matizando o céu
Refletindo sóis por imagens suas
Desencilhei o pingo. O larguei ao campo
E fui pro rancho, matear solito.

O fim do dia repontou a lua
E a noite prateada ainda mais xirua
Foi o palco de sonhos e pensamentos vagos...

Recordei andanças
e criei bonanças num futuro meu.
Divaguei nos campos do meu faz de conta.

A fauna campeira que me faz costado
A cada final de dia ou alvorada
Gorjeou carinhos ao meu devaneio.

Lembrei da chinoca de louros compridos
Que há muito eu queria tê-la por minha.
De lábios corados e pele macia
Que eu por não ter coragem
Só em sonhos a tinha.

Pensei no meu rancho repleto de piás
Crescendo na lida pra domar os potros
Quando eu não mais puder.
Pra erguerem seus ranchos na volta do meu.
Porém conclui:
Os filhos que crescem abandonam o ninho
E traçam caminhos em rumos só seus.
O ronco do mate,
Da cuia vazia me põe em alerta.

É fácil em sonhos criar universos
E tão adversos dos nossos reais
Difícil é ter nos dias singelos
Um mundo harmônico
De encantos e paz...

A água bateu na quincha do rancho
Um raio de luz, a seguir um trovão.
O tempo mudou, sequer eu notei.
Eu tão submerso nos meus pensamentos
Não senti o frescor e o rumo dos ventos.

Secou a chaleira. A erva lavou.
O tempo estiou.
As brasas do fogo cobertas de cinza.
A mim mais um dia na tarca da vida
E a noite é comprida, pra um só que mateou.