Velho Táta

Paulo Sérgio Boita

Golpeio mais um amargo
Bugra seiva de lembranças
Rememoro tuas andanças
As peleias, teu encargo
O sem fronteira pampa largo
Num ritual de índio vago
E os causos do meu pago
Em tua charla, velho tata
E o meu chasque, nesta data
É o presente que te trago

Velho índio da raça
Das mais crioula do pago
Seus conselhos, um afago
Pra rude alma do guasca
Qual um potro, que se tasca
Pras plagas da liberdade
Foi pai, se fez verdade
Pelas sendas da vida
Foi a luz, se fez guarida
E o pendão da igualdade

Lembro pai, tempos antigos
E tão longínquos das eras
Dos entreveiros, dos cueras
E da payada dos amigos
Do guri, sempre contigo
Parido pobre e sem luxo
A brincar de ser gaúcho
A galope na paleta
Ou faceiro na carreta
Altivo e firme, ao repuxo

E neste mundo matreiro
Que peala o índio maula
Tu sempre destes aula
E fostes rumo e luzeiro
O mesmo peão campeiro
Nos solavancos da lida
E a certeza que a ida
Era o começo da volta
Pro teatino que se solta
A lo léo, por sua vida
Este xucro verso que nasce
Do fundo deste meu peito
É rima, sem preconceito
Ao charlar, a tua face
E se o mundo se amasse
Como eu juro que te amo
Não haveria o profano
Sem Jesus no coração
Nem o desprezo à coloração
Escura de nosso irmano

Melenas brancas ao vento
Semblante altivo de guasca
A cor de bronze da raça
No lombo, coriscos do tempo
Um autêntico regimento
De bombacha e de a cavalo
É a prova do que falo
Dos rudes guapos de outrora
É legenda, pro agora
E um livro aberto, que pealo

Viveu ano após ano
Neste pampa que se narra
Num ranchito de taquara
Ou num galpão, soberano
Foi andejo haragano
Nas revoltas, foi soldado
Sem nunca deixar de lado
Seus irmãos, fracos ou pobres
Contra a tirania dos nobres
Neste chão, pátrio e sagrado

Valente, bravio caborteiro
Desde a infância querida
São adjetivos da vida
Deste gaúcho campeiro
Deste taura altaneiro
Que o meu verso retrata
Falo de meu velho tata
Com carinho e com respeito
E sinto o pulsar do peito
Ao te abraçar, nesta data