DAS RAIZES QUE SOU

      Osvaldo Machado

 

Venho do fundo do tempo

seguindo  o curso da história.

Buscando na trajetória

resgatar alguns valores,

e no ruflar dos tambores

do índio de antigamente.

Vejo o passado, no presente

dos poetas sonhadores.

 

Sou velho bugre de antanho

de lança firme na mão.

Requerdos de revolução

em livros ou manuscrito.

Cria, deste chão bendito

Terra de mil amores.

Assim resgato os valores

sou a verdade, não sou “mito”.

 

Sou do Rio Grande nativo

aragano e desconfiado.

Nunca fui embuçalado

isto nunca aconteceu.

Todo este pampa é meu

desde o sul até o norte.

Sou qüera de muita sorte

Sou “JUJO” que alguém colheu.

 

Eu sou o clarear do dia

eu sou o raiar do sol.

Sou notas de MI-BEMOL

Num dia chuvoso e frio.

Sou o andejo que surgiu

no repente e sem malícia.

Eu sou a própria notícia

deste ronco do bugio.

 

Sou mais, muito mais, sou o aroma

das flores da primavera.

Sou cacimba de tapera,

sou doce de encomenda.

Espero até que me entenda

Que sou o amargo doce

do beijo que desgarrou-se

dos lábios de alguma prenda.

 

Mas quem sou afinal?

Ah! Que pergunta buena.

Sou o tilintar da chilena

do domador afamado,

que só montou em aporreado

nos corredores da vida.

Sou peão que chega na lida

pachola e desaforado.

 

Sou grito do quero-quero

sentinela das coxilhas.

Qual, clarim dos Farroupilhas

num ataque alucinante.

Sou o churrasco do andante,

Num descanso na viagem.

Eu sou a própria imagem

do nosso novo imigrante.

 

Sou eu, que  na noite calma

ouço o cantar de galo,

e o tropel de cavalo

da parteira da campanha.

Sou o borrachão de canha,

pra saudar o visitante.

Que bem logo, ali adiante,

saboreia uma picanha.

 

Eu sou a hospitalidade

da gauchada de agora.

Sou a saudade de outrora

e crioulo deste chão.

Sou cuia de chimarrão,

sou água que esta aquecendo

como vocês estão vendo.

Eu sou a própria “tradição”.