ASCENSÃO E QUEDA DE UMA COPLA.

 Osvaldo Machado

 

Olhem bem pra estas melenas,

que as invernias pratearam.

 

Olhem bem pra este Caudilho

que teima em ficar em pé, bem no topo da coxilha

como  um velho angico entonado,

que ficou ali plantado solito,

pra marcar as divisas..

 

Olhe bem pra estas melenas,

quanta história pra contar!

 

Quando o Rio Grande vestiu sua primeira bombacha,

parece que vinda do Oriente.

Eu, também fazia a minha,

dos retalhos que sobravam.

 

Quando o verso xucro do Rio Grande,

deu seus primeiros relinchos.

Eu, estava na porteira de laço pronto,

para uma armada de sobre lombo.

 

Em 47, quando o velho Paixão,

tirou a primeira centelha,

da “Pira da Pátria” e  chamou de

chama crioula.”

Eu estava de prontidão para recebe-la

e guarda-la até hoje.

 

Quando Don Jayme garatujou

suas primeiras coplas de amor á terra.

Eu estava na platéia aplaudindo.

 

Lembro bem de um mês de agosto chuvoso,

quando, já piazote taludo,

ouvir muito falar em guerra,

porque o Getúlio Vargas morreu.

 

Sou contemporâneo do Paixão

e também do Retamozzo.

Por isso sou orgulhoso

dos fatos que hoje falo.

Do Rio Grande, muito mais galo,

dos tempos de antigamente.

Que nos deixou simplesmente,

as rimas como regalo.

 

Ah! Que saudades!

Dos tempos que as artes tradicionalistas

eram feitas por puro amor ao pago.

 

Saudades, das trocas de versos de mano,

apenas por amor á tradição.

 

Mas os tempos mudaram.

O progresso chegou,

os homens cederam,

o mundo mudou.

Mas eu...  eu, não mudei.

 

Eu continuo o mesmo cerne de angico,

plantado naquela coxilha,

que ficou só pra marcar as divisas. 

E talvez fique ali solito, sem mudar.

 

Eu sei que essa tal de evolução que,

apesar de nós trazer algum regalo,

nos imbreta num canto,

como que nos dizer...

E vai levando tudo pela frente,

inclusive,os nossos mais puros sentimentos.

 

Quando lembro do ontem... A saudade mete a cara e...

Que saudades!

 

Mas o “hoje” chegou...

O mundo mudou...

Os costumes mudaram...

Os homens cederam...

Mas eu... Eu não mudei.

 

O “hoje”, esse maleva, chegou!

Chegou todo meloso,

cheio de novas propostas...

 

Chamam essa nebulosidade atual, de pós-modernismo.

Mas esse vento, chega soprado por interesses

estranhos à tradição gaúcha,

chega como a brisa do mar, calma, sorrateira e

vai aos poucos corroendo os nossos costumes,

como se nada mais tivesse valor.

E tudo aquilo que foi forjado a custa de invernos,

é relegado à outro plano e  soterrado como lixo.

 

Com o discurso de mudanças,

querem mudar também a tradição.

Será que não se deram conta que tradição é algo imutável!

Será que uma tradição pode ser mudada?

 

Sei! Estou cansado de saber.

 

Com essa tal de evolução,

surge um grande baile onde,

quem ta fora, não entra e

quem ta dentro não sai,

que em nome da arte moderna,

cuja regra é não ter regra,

empurra ferozmente o versejar gaudério pra sarjeta...

 

E eu ainda estou aqui...

Eu quero estar aqui presente,

pra o recau das brechas deste tapume,

onde varam outros costumes

que corrompe a nossa gente.

 

O “amanhã”, se anuncia.

E chega com cara de mau.

 

O “amanhã” é temeroso...

 

Será que amanhã, o meu verso

terá pelo menos um nome gaudério?

Ou nem isso mais terá?

Será que vale a pena esperar pra ver?

 

Quando em fim, esse tempo chegar,

talvez eu seja apenas aquele velho tronco de angico

que ficou ali plantado, bem no topo da coxilha,

para marcar as divisas,

e que apesar das intempéries da evolução,

continua indômito e...

ainda não Tombou.