O FILHO DO MEU CUSCO
Odilon Ramos
Buenas parceiro!
Tas querendo saber quem eu
sou?
Tas querendo me reconhecer?
Pois sou eu mesmo!
Meio mudado,
Alguns anos
mais velho
E mais judiado.
Mas sou eu...
Sabes pra onde vou e o que
busco?
Pois é, Eu gostava do meu
cusco.
O que morreu.
Gostava tanto que peleei por
ele.
Já lhes contei a história no
que deu.
O que não lhes contei.
Pois não sabia,
É que a cusquinha
Que o meu cusco emprenhou.
E foi a causa dessa
estripulia.
Ficou lá pela estância.
E lá deu cria.
E uma das crias.
Um peão amigo me guardou.
Cumpri parte da pena.
Quatro anos...
Quando por boa conduta
Me soltaram.
Que a lei me concedeu
condicional.
Saí campeando emprego.
E num bolicho.
Encontrei o Patrício.
Um castelhano.
Que logo ao me dizer
"Buenas, hermano!"
Atiçou-me a lembrança e a
saudade
E empeçou a contar as
novidades.
O que se sucedeu na minha
ausência.
Por desgosto.
O patrão vendeu a estância;
Bandeou-se pra cidade,
E os novos donos
Ouvindo os testemunhos
Da peonada em minha defesa.
Me
aceitariam de volta, com certeza
Pra ser de novo, um peão de
confiança.
Afinal.
Eu só me defendi naquela
luta,
E uma vida inteira de boa
conduta.
Sempre pesa na balança.
Mas o que mais me aguçou o
interesse.
Foi o Patrício ter me dito
Que da ninhada que a
cusquinha deu
Ele apartou o mais bonito,
Escondeu, e criou guaxo, pois
sabia
que mais dia menos dia
Eu saía da prisão.
Foi o que agora aconteceu.
Pois não...
Já sabes pra onde vou e o que
busco.
É o cusquinho.
O filho do meu cusco!
Diz o Patrício
Que ele é tal qual o pai.
Vivo, ligeiro, esperto
E bem disposto;
Campereia faceiro que dá
gosto!
É um arrimo
Que a peonada trata como um
mimo.
E que visto de longe,
Ao lusco fusco,
É como fosse a alma do meu cusco.
Mas bicho não tem alma,
Eu sei bem.
Quê puxa!
Se eu gostava do meu cusco.
Do filho dele vou gostar
também!
Só que eu agora.
Sou índio mais vivido, mais
cancheiro.
Já não sou capaz de uma
leviandade.
Por mais que eu vá gostar
desse guaipeca.
Hoje eu sei quanto vale
A liberdade.
Bueno parceiro,
No mais, vou indo.
Vou ao tranquito, sem pressa.
Vou sentindo
Nossos ventos me abanando
O velho pala.
Pra mim, é nova vida que
começa;
A vida livre de um homem de
bem.
Até mais ver, parceiro!
Já sabes pra onde vou e o que
busco.
Quê puxa!
Se eu gostava do meu cusco.
Do filho dele.
Vou gostar também!