ROMANCE DE CAMPO E MAR

Moisés Silveira de Menezes

 


 

Quem embarca em barco alheio

embarca anseios e medos

abarca sonhos nos braços

que lançam redes no mar

buscando nesta labuta

garantir o pão na mesa

onde a luz da lamparina

ilumina rostos tristes

todos crentes na esperança

de um dia ter vida boa

e talvez saber que o fim

é o sem fim azul do mar.

 

Para quem mira de longe

parece um frágil caíque.

 

O barco que abarca o mundo

que embarcou no continente,

sarandeia sobre as ondas

por hora em suaves meneios

por outra quase soçobra

em tremendo corcoveio,

mas no leme, rédea firme

Juvêncio com tino e rumo

sabe que a vida renasce

na sobrevida dos tombos.

 

Campeiro vindo de estância

do mar verde da campanha,

uma espécie de marujo

de campo verde e macega

não vê muita diferença

entre o lombo dos ventenas

e esses barcos araganos

que buscam na faina diária,

além de ricos cardumes

respostas pras inquietudes

e talvez chegar ao fim

do sem fim azul do mar.

 

Juvêncio é um desses tauras

que vieram do mar da pampa

tentar à sorte embarcado

nesses barquitos pesqueiros

quem outrora marcou, curou

quebrou corincho de potros.

 

Hoje garimpa garoupas,

bagres, tainhas gavionas...

Se equilibra sobre as ondas

quem antes se enforquilhava

num maula que levitava

por sobre as ondas do pasto.

 

Quem domou xucro em Santana

e gineteou nas “criollas”,

tenteou traíra em Rio Negro;

Fez presença em Vacaria,

não respeita o mar por grande

mas teme o desconhecido.

 

Juvêncio se aferra ao leme

e lembranças passageiras

dos mistérios do jarau

de tirotear com gendarmes,

compõem um mundo pequeno

ante o reino de Netuno.

 

Nas ondas crespas do mar

o barco navega suave

buscando vida e sustento

há uma inquietude que inquieta

quem se aventura na lida

no imenso reino marinho

onde o peixe é garantia

de quem precisa sonhar

pra alimentar outros sonhos

e amenizar esta angústia

de nunca chegar ao fim

o sem fim azul do mar.

 

No lombo de um baio ruano

que ondeava por sobre  pastos

numa “criolla” a lo largo

entendeu assim de pronto.

 

Que o sem fim verde do campo

terminava no alambrado.

Mas no leme  de um pesqueiro

num reino sem aramados

a liberdade é completa.

E o fim do sem fim do mar

é o começo “por supuesto”

do sem fim azul do céu.