POR NÃO VIVER NO POEMA

Moises Silveira de Menezes

Não busquem pelo poeta
na teia crua do verso.
Fantasmeiros figurantes
ressuscitam gastas lendas,
sombras... assombram taperas.
Habitantes do poema
construíram sua aldeia
onde os fletes da poesia
desafiam Vesta e Cronos.

 

Poetas, bardos, profetas
não povoam labirintos
ante-salas fumacentas
poeira, fumo, absinto
mangueira, pasto, pealo.
Não encontrareis o poeta
nas contravoltas do poema
casulo de metonímias,
fagueiras, chinas ribeiras.

 

Seis cordas de Andaluzia
en la noche arrabalera
ventos voejam metáforas
no céu de Erato e Polínia.
Um vago troca de ponta
por “le gustar un malino
homens, aves migratórias
poetas movem luzeiros
não há lugar no poema!

 

Bandoneon em reculuta
amores em contradança
nuvem de álcool, ausência
um tango canta Gardel.
Vetustos vultos revivem
múmias de pó e pachulli
byroniano cabaret...
tinha vida a divisória
viviam poemas por lá!

 

Troveiro derrama ausências
desditas derretem lenços
lunar perdido nos olhos
olhar de lua minguante.
Musas habitam poemas
poesia, mundo em agito
pulperias, vilas, becos
poema mundo de todos
Poeta não tem lugar!

 

Torena pego a lo bruto”
num tiro de sobrelombo
cantiga de tiro largo,
cantata gravada a ferro
nudez no fio da palavra.
Habitam mundos diversos
os tantos seres do verbo
implacável vaticínio
não há lugar no poema!

 

Foi o verbo! Será verbo!
dos aedos a Santos Vega
poema, poeta, poesia
sete mares, sete musas
templário, espada, palavra
cantochão antes do bronze,
sete velas ao negrinho...
poeta não tem lugar
não há lugar no poema!