Poema do Singelo Amor

Moises Silveira de Menezes

 

Andei buscando metáforas

Para compor-te um poema

Descartei muitas figuras

Na relancina do olhar

Algumas, velhas, cansadas

Por tanto tempo de estrada

Outras, gastas, basteriadas

Pelo mau uso da lira,

Lirismo vem de afogar-se

Na prosa das tardes pardas

Compondo pilhas de copos

Nas desditas bolicheiras.

 

 

Desfalcado de figuras

Fui desfazendo adereços

Fui refazendo verdades

Como quem monta em pêlo

Como que laça de a pé

Adaga!!!  Não se olha o “S”

Metais no cabo em adornos

Mas do aço a procedência

A folha que é garantia

Extensão férrea do braço

Palavra... ferro solito

Poema... adaga na mão.

 

Estranho, talvez pareça

Folha em aço de Toledo

Num poema que era de amor

Signo, símbolo apenas

Oferta, rito, ritual

Elo ligando dispersos

Cruz de morte, cruz de vida

Sentimento amalgamado

Luas, sois, uvas maduras

O amor tem seus encantos

Mas é uma dança de adagas

Uma cruzada de olhares.

 

Mais contra voltas que sorro

Uivos de lobo guará

Corcovos em rebeldia

De potros em liberdade

Promessa de noite longa

Nos olhares janeleiros.

Assim o poema estradeia

Pés descalços campo a fora

Despojado lança em riste

Olhos abertos para o sonho

Laço estendido no ar

Buscando vaza pra um pealo.

 

Há que ferir a palavra

Há que ferir com palavras

Ponta de adaga no peito

Poema ponta de lança

Flecha voando sem asas

Passadas a fio de adaga

Sete cabeças da hidra,

Sem rebusque gongoreiro

Sem lamurie condoreira,

Bombacha, boina, alpargatas

Meu flete conhece o rumo

Do rancho simples da china.

 

Por vezes velhas figuras

Ressurgem fantasmarentas

Devassam o ser do poema

Metaforeiam por instinto

Sem permisso, sem razão

Quando percorro vibrando

Teus escondidos e luas

Quando beijo boca e lagrima

Cristais de sanga nas pedras

Ou quando um olhar de arado

Rasga o ventre da coxilha

Para as lavouras de pão.