Osório Marquês de Herval

Moisés Silveira de Menezes

 

Quando o sol se esparge em raios

Sobre a coxilha e plainos

Vozes antigas renascem

Pelas encostas dos cerros

Pelos trevais das ladeiras.

A pampa se adoma inteira

Cantos rebrotam, ressurgem

Pelos setembros do pago.

O Rio Grande se levanta

Retumbam cascos, tambores

Formam fletes, cavaleiros

Sob um sol primaveril.

 

Aqueles que Garibaldi

Alcunhou por temerários,

Homens de cargas e encargos

Cavalgam sonhos de crinas

Alados em quatro patas.

Vem de longe, muito longe

Das folhas vivas da história

Sobre corcéis tormentosos,

Que levaram a geografia

Para além dos alambrados

Extravasando limites

Para o deleite dos poetas.

 

Entre a serra e o mar bravio,

Estreita faixa de terra

Forjada aos golpes dos ventos,

Conceição do Arroio, berço,

Daquele que fez história

Ao fragor dos bate-cascos.

Ergueu-se diante da pampa

Um lenda de à cavalo.

O destino abriu caminhos

Para o moço ainda tenente,

Lança em riste, espada em punho,

Galgar postos e honrarias

Sobraçando um pala “gaúcho”.

 

Escaramuças no Prata,

Lides gaúchas na estância,

Pela mão sábia do pai,

A escola xucra da pampa

Formadora de guerreiros.

Bem ao estilo de Aníbal

De Alexandre e Macedônio

O lendário Manuel Luis

Fez do cavalo seu trono,

Do campo largo um reinado,

Fulgindo nos intermédios

Lampejos de trovador.

Humaitá, Passo da Pátria,

Sob o troar dos canhões,

Terra, fogo, chumbo, sangue,

A morte bombeando solta,

Vem por bala ou por espada,

As vezes ponta de lança,

Um mar horrendo, convulso,

No coração da batalha.

Osório, estrela maior,

Ensina ao mundo ser fácil,

Pala ao ombro, bem pra trás,

Comandar homens libertos.

 

O gênio então aparece

Na tarde de Tuiuti

Arte, coragem, exemplo

Fulgura em meio ao combate.

Pelo dom da ubiqüidade,

Se faz ver em toda parte,

Sobranceiro comandante

Sob um sombrero chileno.

Com proteção de Minerva

e Marte o deus das batalhas

Vai abraçar-se à vitória,

Beirando a boca da noite.

 

Por isso nesses setembros

quando a pampa se engalana,

farfalha a seda dos palas,

tremulam lenços, bandeiras,

colorindo as avenidas.

Manuel Luis, parece então,

à frente dos “de à cavalo”

redivivo em luz e glória.

O Rio Grande se perfila

sob clarins e galopes,

sorrisos pelas janelas

e campos se abrindo em flor.