CANTO A UM IRMÃO DE IDEÁRIO

Moisés Silveira de Menezes

Meu Irmão de Rimas livres
permisso pede o cantor
para opinando saudar
terra dos ancestrais
pois, provinciano é meu canto
que brota como vertente
pelas encostas dos cerros
coxílias, campos e arroios
onde um reduto de bravos
faz verso por teimosia.

 

quando um verso alça a perna
no lombo da fantasia
carrega trezentos anos
de entreveros e patriadas,
escaramuças fronteiras,
masculina confraria
que se forjou de a cavalo
e faz de mim sonhador,
que tal um “chicho” andarilho
buscando um lenço encarnado.

 

A bandeira maragata
vinda dos plainos da Ibéria
prá drapejar no pescoço
dos bravos de Gumercindo
Uniu guerreiros bilingües
sob ideais igualitários,
concedeu-me identidade
e aura de libertário,
pois, “o rincão donde eu venho
sabe o que herdei de meu pai.

 

O tempo parou rodeio,
velhas garruchas cruzadas
simbolizam paz na Pampa.
Ensarrilharam-se as armas
depois da última carga
no Seival em 26.
Arados sulcam os campos
“Ouro do rio, o arroz é sol, o arroz é rio”,
cantam as várzeas costeiras
em louvor ao suor do peão.

 

Das barrancas do Rio Uruguai
viste o peão, rumo do nada
retirar-se derrotado
ante o ronco dos tratores.
Esse mesmo peão campeiro
que no vagar da gaiota
foi descobrir já mui tarde
que a propalada igualdade
não passa pelo barraco
na viela da vila pobre.

 

Sobrevive só nos poemas
a mítica personagem
que sovou potros e arreios
riscando o lombo da história
e moldou nos bate-cascos
um Rio Grande romanesco.
Mas, o presente sem brilho
Nos olhos tristes da china
Por cento vai nos legar,
Um amanhã sem tapejaras.

 

Perdoa se divaguei
Nesse poema que é só teu.
Pesou-me o poncho molhado
Por intempéries da estrada.
Se o boi é bicho, também sou
mas sob o couro, a alma de poeta,
respeita o boi e o peão tropeiro,
ambos são frutos dessa vida rude
que os faz irmão
por vocação e ofício.


Meu irmão, cerro esse poema
Invocando os céus em prece
Sob
a Gran-Cruz de Lorena.
Que São Francisco de Borja
Te ilumine vida e verso
E tua lua andarenga
Entre tantas outras luas
No céu das tuas visões
Continua vida afora
Andalunando contigo.