FUNERAL DE TROPAS

      Moacir D'Avila Severo

     

      A tropa aponta na ponta da estrada

      Maleva que leva ao Juízo Final.

      Ergue-se à poeira, parda bandeira,

      Em cerimônia a um funeral.

 

      O berro do boi, o grito do homem,

      O assovio do vento no fio do alambrado,

      São fundos que marcam a última viagem

      De vidas-passagens, destinos traçados.

 

      E o grito de "Hêra"

      Ecoando no espaço

      Ao lerdo expressa

      Mais pressa no passo.

 

      Toda esta tropa se ajunta com a junta

      De bois mansos: Pintado e Pitanga,

      Do ventre ajojados num mesmo fadário,

      De viver e morrer parceiros de canga.

 

      Caminham em silêncio, têm mais experiência,

      Pela convivência com o homem-patrão.

      Querem mostrar aos que berram em protesto

      Que perdão é bom gesto se a morte é razão.

 

      E o grito de "Hêra"

      Que ouviam na canga

      Ora é grito sentença

      Ao Pintado e ao Pitanga.

 

      Outras tropas virão nesta estrada,

      Soldados sem armas à luta fatal.

      Tombarão como heróis trocando suas vidas

      Pela fome do homem em mais um funeral.