SINUELO DE SONHOS

Maria Pampin

 

Sou prenda inda jovem, sei,
Mas tenho conhecimento
De aprender o que é de lei,
Pra sofrenar sentimento.

 

Pouco a pouco, num remanso,
Vou preparando o futuro.
Nessa lida não me canso,
Não me afoito, não me apuro.

 

Envolvo assim, docemente,
Dentro do peito onde trago,
Num coração mui ardente,
Relíquias desse meu pago:

 

As planícies, as canhadas,
As pradarias sem fim,
Onde os potros em manadas
São
pedacinhos de mim.

 

A cacimba de água clara,
As vertentes cristalinas,
Donde lavei minha cara
Em suas águas divinas.

 

A carreta que andou tanto
E agora não se vê mais,
Ficou para trás nalgum canto
Cochilando nos varais.

 

Tanta coisa por sua vez,
Que se fez, tão macanuda,
A gente muda, talvez,
Mas o pago nunca muda.

 

E aparto o certo do errado,
Cruzo a porteira pra estrada
Com o destino traçado
Porque assim fui ensinada.

 

Nos peçuelos da esperança
Levo os sonhos que puder,
Do meu ontem de criança...
Pra uma amanhã de mulher !