Rumbeando Saudades

Autor: Marco Antônio Dutra

 

As labaredas do fogo do galpão
são espelhos pra minha alma cantadeira...
Pois viajam no tempo, entre rendas
de nuances rubras que brotam do espinilho em brasa
a refletir um brilho de estrela
misturada com uma lágrima desgarrada.

 

O chiar da cambona em riba do fogo,
quebrando o torpor do silêncio,
aparta os recuerdos da mente
e recria na tela vermelha da barra do dia.
Um piá a correr pelos campos abertos,
cortando os trevais e a ferir os bibis
com as patas ágeis do petiço alazão.

 

De quando em vez,
boleando um lacito de couro com pelo,
rasgando armadas por sobre os guaxos.
Sob o olhar severo de seu velho pai.

 

Deveras, o tempo passou depressa para aquele piazote.
Naquelas tarde de artes sem fim,
a pelear terneiros, armar mundéus e correr nos campos a rosetear os pés.

 

Ficou na memória daquele homem
que nos tempos de moço
deixou a querência pra seguir outros nortes
em busca daquilo que nunca perdeu !

 

No rastro dos rumos que seu flete patiou,
restaram lembranças, saudades e amores.
Daquelas lides de moço deixadas pra trás nos corredores.

 

Depois de muitas tropeadas,
a campear um feitiço para o seu coração,
achou o rumo do povo,
uma prenda bonita de olhar esmeralda.
Abrindo picadas, aquerenciou-se de amor.

 

No alto do cerro,
junto a sombra do umbu – moradas pras mansas –
plantou um ranchito de paredes barreadas e capim santa-fé
com soleira na porta
pras horas do amarguear.

 

Hoje... o velhito sem lume no olhar,
rebusca na boca da noite,
junto ao fogo de chão,
aquelas charlas fraternas
das confrarias domingueiras do seu tempo de peão.