HOMEM CAMPEIRO

Marco Antônio Dutra

 

Trazia nas mãos calosas

As estâncias do Rio Grande

Marcadas com cordas brutas

Do braço forte de domar.

 

Os sulcos a mapear-lhe as faces,

das invernias de agosto.

Por onde campeou saberes,

em rondas de muitos fogões.

 

E quando dos tempos moços

Lá no Passo do Vidal,

Teve largura de campos

no lombo de mil baguais.

A crescer em pleno viço,

no olhar severo do pai.

 

Em suas lembranças de infância

quando lhe pealava a memória,

dum guri de pé no chão,

a puxar peixas de prata

do velgo Jaguarí Grande.

Doce rio de sua história.

 

Pelos campos missioneiros,

foi crescendo este piá,

Traçando a sua escola,

pelas lides de galpão.

E do lombo do pipeiro,

arrastando água da sanga,

Nas duras secas de verão.

 

Depois de já muito taludo

Com ganas de alcançar horizontes

foi na estância Santa Eugênia,

que buscou colocação,

servindo de até mandalete

Para depois, ajustar-se de peão.

 

Em sua primeira tropeada,

Lá pros rumos de Santa Cruz,

Levava de montaria uma flor de tordilha,

uma burra gateada e dois cavalos de tiro.

Nas malas, ânsias e sonhos,

na volta cicatrizes na alma.

 

E assim tropeou pelos anos

pateando os confins do Rio Grande,

deixando marcas de fogo,

plantado junto às aguadas,

E no rigor dos invernos,

Fazia os pelegos de catre

E o velho poncho, de galpão.

 

Numa manhã de agosto,

depois do sol apontar,

Pediu as contas ao patrão,

emalou poncho nos tentos

mirou para o horizonte e se pôs a estradear.

Pois tinha a alma nos bastos

No seu ofício de domar.

 

E nas estâncias que apeava,

no longo dos corredores,

deixava marcas de domas,

no lombo desses malinos,

Pois cada tirão que dava

Trançava um tento ao destino.

 

Um dia de volta pras casas,

o sol atorado ao meio

sombreando o entardecer,

vinha batendo na marca

uma peona da estância,

que lhe mirou no olhar.

 

Montava num pastor baio,

sobre um basto Paysandú,

E atado aos cabelos negros

os tentos de couro cru,

combinando com as faces

flambadas de muitos sóis.

 

Pelas quarteadas do tempo,

Aquela flor de morena

Lhe aparceirou no ofício.

Pois era um cambicho pras noites

e um parceiro pras domas,

Batendo cruzado de mango

Para aprontar a tropilha.

 

Hoje, lhe falta força nos punhos,

Pra sujeitar os ventenas.

Mas tem tutano de sobra para ensinar a moçada

Pois tudo na vida ao seu tempo:

Pra ser aluno ou ser Mestre.