DESTINO DE UM DOMADOR

Marco Antônio Dutra

 

Pelas feições se sabia

que o índio era Bueno demais.

O seu nome? Pouco importa.

Pois os chamavam de Chico.

Podia ser o patrão

Ou, a gurizada da estância,

bastava gritar seu nome

estava pronto no más.

 

Chegou não se sabe donde,

pela entre safra das domas.

Trazia em uma das mãos

um par de esporas prateadas,

um mango de encaroçar

agarrado ao pulso caído

pelo tento do fiel.

 

Um jeitão lá das missões.

Amestiçado nas falas

de um castelhano argentino,

quando proseava com pressa.

 

No mas, um servidor...

para as lides campeiras.

Porém, quando chegava setembro.

Arrematando o inverno,

deixando marcas no campo,

seus olhos fitavam longe

em busca de cavalhada.

E as esporas crinudas

lhe sorrindo nos ganchos.

Como pedindo pro dono

o sangue daqueles potros.

 

Assim era o Chico ginete.

Conhecido por todos,

que viviam ali.

Mui amigo da peonada.

Porém não esquentava o pelego

muito tempo num lugar.

 

Mas faltava-lhe um potro

para quebrar o corincho.

Pois foi deixado por último,

por respeito ou capricho,

nem ele mesmo sabia

a resposta da pergunta.

 

Se veio então o malino

pelo cabresto e buçal.

Palanqueado na mangueira

o destino de um peão.

Era um lobuno pastor

de uns quatro pra cinco anos.

 

O quebra domador

era forte de garrão

e de pulso também.

"Pode largar o demônio"

O ventena se foi pro céu

em corcovos de horror

com quatro patas no ar

e o mango velho cruzado

surrava pelas paletas

até que foi se entregando

para os briuos do domador,

mas num último corcovo

o maula rolou de vez

e o Chico se foi de cara

junto a cerca de listão.

 

Passaram-se dois dias

e o Chico desacordado

num catre pelo galpão

atento pelos cuidados

de uma negra curandeira

de lides pelos fogões.

Até que enfim acordou,

porém, sem poder enxergar.

 

E aquele ginete moço

que nem o tempo enraizou.

Pois tinha olhos plantados

para o verdor das Campinas

sempre a campear os ventenas

para moldar nos arreios.

 

Agora lhe resta sonhos

nesta vida de trevas.

E o sol que repontava setembros

lhe convidando pras domas,

Tosta-lhe o corpo cansado

pelo vigor dos Verões.