VELHO TÁTA
MARCO AURÉLIO CAMPOS
JEITO...
SOMENTE JEITO E ALMA DE CAMPEIRO.
RETOS TRAÇOS SENSUAVES,
QUE SÃO COMO VALQUEJOS DE ENCHÓ NA CARA.
MEU BRONZE MORENO,
CURTIDA PELA FUMAÇA DOS ENTREVEIROS DOS HOMENS,
PELOS CAMINHOS DA VIDA,
COM SÓIS E SÓIS E MINUANOS PRENHES DE CHUVAS E CANSAÇOS,
QUE NÃO TE QUEBRARAM O PORTE NEM DIMINUIRAM A ALTIVEZ.
GARBOSO E ERETO. ESTA É A TUA
ESTAMPA.
ELA É MINHA HERANÇA CHARRUA.
MAS ESTÁ SÓ.
POBRE, TRISTE E SÓ, NA VASTIDÃO DO PAMPA.
TÃO POBRE, TÃO TRISTE, E TÃO IRREMEDIAVELMENTE SÓ
NA SOLIDÃO PAMPEANA QUE ESTA MINH'ALMA INTEIRA SE
LEVANTA
E SEM OUTRA VOZ MAIS CHUCRA, QUE TE CANTE, VELHO TÁTA,
CORRE AS VARAS DO PEITO,
E SÓ PORQUE DO FATO DE CANTAR É MEU O JEITO TRISTE,
SEGUE TE VENDO
TENS A TESTA, VELHO TÁTA,
COMO OS PROSAS DAS FRIAS NOITES CAMPEIRAS.
MELENA MOURA PRATEADA PELA LUZ DO SOL DA IDADE.
É COMO QUINTA DE ESTÂNCIA QUE PRIMA POR CAPRICHOSA.
TENS ASAS POR SOBRANCELHAS A RUFLAR TONS DE AMEAÇA.
GARBO DE AVE DE RAPINA QUE TRAZ AMEAÇA NO PORTE.
O NARIZ É DE GAVIÃO MOURO, VISTO DE LADO,
DE FRENTE, É UM VELHO ANGICO PARADO.
TEUS OLHOS, MEU VELHO TÁTA
TEUS OLHOS VERDES GATEADOS SÃO FOGÕES TROPEIROS
ACESOS JUNTOS NA PAMPA NOS FUNDOS LONGES DE UM CAMPO.
ESSES TEUS OLHOS TÃO VERDES
QUE
COMO A EMBALAR MIL RECUERDOS
E SONHOS QUE ENCANECERAM.
É MEU O TEU OLHAR.
ESSE QUE ENGOLE HORIZONTES SEM SABOREAR OS CAMINHOS
QUE TRAZ LÁGRIMAS TIMBRADAS NA VOZ QUE TEVE OUTRORA.
QUANTA DOR, MEU VELHO TÁTA,
QUANTA MÁGOA EU VI DAR NÓS NA TUA GARGANTA.
MEU SOL DE VIDA QUE RUMBEIRA O NORTE-OESTE DE UM FIM.
MINHA RÉSTIA DE LUZ TÃO BONITA DE UM DIA QUE FOI TÃO CLARO.
A TUA PALAVRA, MEU VELHO
TÁTA,
TEVE SEMPRE PARA MIM O FRESCOR DA SOMBRA MANSA
NUM VERÃO DE TARDE BRAVA,
NA ESTRADA QUANDO
E O
TEVE SABOR DE MUITOS PONCHOS.
TENS OS BRAÇOS, VELHO TÁTA,
COMO GALHOS DE UMBÚ
SEGURANDO
ABERTOS PRA ESTAS BEIRADAS
QUE NOS CRIASTE QUERENDO E GARANTISTE PRA NÓS.