Para Que Tu Saibas

Marco Aurélio Campos

Para ti meu patrício!

Simplesmente para ti,

que sabe, ou pensa saber tanto.

Para ti! Especialmente...

que gosta de ir a uma festa campeira.

Que é uma festa gaúcha,

das mais gloriosas festas do meu Pago,

tipicamente crioula,

ou simplesmente uma doma,

como tu a chamas,

e que de doma parceiro,

não tem nada, porque para quem sabe,

o nome é gineteada.

 

Pois bem...

Para ti. Para ti e para tantos outros,

que para testar um gaúcho, como prova

querem fazê-lo sempre usando um laço,

para que piale, retorcendo a eguada,

ou no corcovear baldoso, do aporreado,

que foi acostumado a plantar quem gineteia.

 

Para ti meu patrício,

Para que de uma vez por todas,

apreendas, ao ficar sabendo,

depois que eu rasquetear tua ignorância,

esclarecendo-a carinhosamente,

para falar-te apenas de coisas que conheço,

sem repetir jamais o que aprendi,

pelo que ouvi dizer,

para que sintas patrício irmão,

que não destrilho

para não sofrer depois, com comentários.

 

Vou te falar a respeito, apenas do meu tempo,

e nunca do tempo aquele, que dobrou meu velho.

Patrício amigo!

Entre outros, existe lá pelo meu Pago,

o domador de potros, o que laça,

o que piala,o que monta e as vezes gineteia.

 

O diarista, o mensal, o que tropeia,

o que semeia e colhe, compra e vende,

o que cura, o que marca, o que banha

.O que num toso de mestre, grava o nome.

E o que com tentos de ñanduti tece esperança.

 

Gente terrunha,

que o próprio tempo jamais apagará,

porque são homens, esteios do meu Pago.

 

E há homens por lá,

que não chimarroneiam

ou comem carne como a maioria,

porque lhes faz mui mal,

tal qual a ti.

 

Existe o alambrador,

que sem saber, talvez montar num flete,

domou a pá, a alavanca, o espichador,

faz mil maneias, cerca califórnias e sangra.

"Esse também é gaúcho e crioulo companheiro!"

 

Moreja lá, o monteador,

que faz lenheira, e que reponta na tropa lenhadeira,

novilhada de coronilhas, angicos e paus-ferro,

montando um pingo cortador,

com cabo, que é conhecido mais como machado,

"Esse! também é gaúcho e crioulo companheiro!"

 

Outros existem! que aguentam mil corcóvos,

e que no toso de uma velga bem tirada,

deixam suas marcas  com letras de sementes

por essas noites frias, fratoreadas.

"Esses também são gaúchos e crioulos companheiro!"

 

Há o que junta jujos,

o que ordenha, o caseiro!

o que esquila, o aguateiro, o que insemina.

Há o ferreiro, que a marreta e bigorna,

ferra e cuida os fletes,

Há os que amam, os que apreendem e os que ensinam.

"Esses! também são gaúchos e crioulos companheiro!"

 

 

 

 

Por ofício ou profissão,

posso te citar milhares,

mas virão sempre trançados com o crioulismo.

Desiste de procurar a diferença!

Unifica! É lei de patriotismo!

Por isso! Por isso te peço que compreendas,

porque certos julgamentos que tu fazes, nos doem tanto...

 

Eu não pialo!

Nunca pialei,

Mas lavrei, bati enxada e ordenhei mil vezes.

"Eu sou tão gaúcho ou mais, do que o que monta."

 

Quero que saibas patrício,

que não digo o que digo,

por ser professor

ou me julgar melhor,

mas por ter vivido um pouco,

e ter sofrido muito,

calejando a alma em troca de experiência.

 

Entende finalmente,

que é tão gaúcho,

o homem que trabalha na terra

desta terra ou deste Pago,

quanto o que laça, piala, gineteia

ou que escreve um livro com crioula consciência.

 

Orgulho gaúcho de sulamericano.

Orgulho mais lindo por ser brasileiro.

Orgulho macho de honra e decência.

 

Por isso companheiro, entende

que para saber,

te falta o que é prudência.

E para aprender, te sobra...

Se  tiveres vergonha.