TEATRO VAZIO

 Luiz Menezes

 

O velho Palhaço

Chegou frente ao teatro

De fachada triste,

E olhou cismarento

Buscando lembranças

Perdidas no tempo...

 

Nas paredes frias,

Figuras e nomes

De atores famosos

Estavam expostos

À fúria dos anos.

 

E foi temeroso

Que o velho Palhaço

Entrou lentamente

Pisando com jeito

No assoalho quebrado,

Tateando às escuras

Por entre as cadeiras

Que ficam mais tristes

No mundo sem vozes

De um teatro vazio.

 

Parou de repente;

Ouvia silêncio

Silêncio...Silêncio

Que tanto queria.

Emoção. Quis fugir

Quis chorar, quis sorrir,

Mas aquele silêncio

Do teatro vazio

O induzia a ficar.

 

Ali estava o palco:

Um palco sem luzes

Um palco sem vida

Um palco vazio...

Nem mesmo um cenário

Restava de tantos

Que fizeram glórias

Em noites de estréias.

 

Não há pra o artista

Mais nada tão triste,

Que toda a tristeza

De um teatro vazio.

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E o velho Palhaço

Sorriu pra tristeza,

Zombou da tristeza

Cantou pra tristeza,

Fez coisas que nunca

Pudera fazer...

Seus olhos abertos

- beirando à loucura -

estavam felizes

porque finalmente

a glória chegara:

 

Seu canto, seu riso

a alma do artista,

era ouvida e sentida

em silêncio total!