MULATA

Luiz Menezes

 

Mulata de ancas bonitas

Bolia com o seu instinto...

E aqueles cabelos lisos

Negros, que iam à cintura,

Levava o Juca à loucura

Naquela manhã de chuva.

 

Levantou, juntou os pelegos

Passou uma água na cara,

Quando viu Maria Clara

Com seu vestido molhado

Bem junto ao corpo, colado

Como ele queria estar...

 

E aquela chuva manhosa

Cotucava o pensamento...

 

Da janela do galpão

Juca olhava pra cozinha,

Onde a moça se entretinha

Naquele diário labor.

E ela bem que percebia

Pois de quando em vez saía

Sem importar-se com a chuva,

Fazendo a roupa molhada

Ressaltar seus belos seios,

Sedentos de um manuseio

Do índio que lhe espionava...

 

Nada é mais convidativo

Do que uma manhã de chuva...

 

De repente resolveu:

“É agora ou nunca que eu vou...

pegou a cambona e se foi

na direção da cozinha,

ver bem de perto a Maria.

A cambona era pretexto

Pra um começo de conversa...

 

Aquela mulata linda

Com seu vestido molhado,

Era um convite ao pecado

E o Juca não vacilou...

 

Entrou pedindo “permisso”.

Ela fez que não ouviu...

Mesmo assim o Juca insistiu:

Me empreste uma água quente?”

ela ficou indiferente

mas depois fez um sinal,

que não fizesse barulho

pra o Patrão não acordar...

 

O Juca endoidou de vez,

Era agora ou nunca mais...

Quase não acreditava

Que aquele corpo molhado

Fosse feito de pecado

Com barro da tentação.

Fugiram para o galpão,

Lá não havia ninguém...

 

A chuva apagou os gemidos

E o catre guardou o segredo...

 

Hoje o Juca acordou cedo

Levantou, lavou a cara,

Pensou na Maria Clara

Que se foi sem lhe dizer...

Depois olhou pra cambona

E lembrou daquele dia:

“Que mulata era a Maria!

Nunca mais vou lhe esquecer”.