BRINQUEDOS DE GURI

Luiz Menezes

 

Quando arriba do galpão,

o sol vai perdendo pé

E as casas de Santa-Fé

desenham sombras no chão,

Há um soluço de amplidão,

Na planura enssolarada

Hora de tudo e de nada,

Quando a própria natureza

Fica bombeando surpresa

as artes da gurizada.

 

Eu também já fui guri,

e brinquei junto aos galpões,

palanqueando redomões

assim na comparação,

de sabugos, que ilusão,

formou a mais linda tropa

que ainda hoje galopa

dentro do coração.

 

E enquanto assim eu brincava

Atento ao olhar paterno,

Não pensava que o inverno

Da velhice ia chegar

E ali, naquele lugar

Que outrora foi minha estância

Deixasse o tempo e a distância

Uma saudade morar.

 

Nem mesmo a mãe natureza

Ao retornar, na verdade

Me deu a felicidade

De ver o sol no galpão

Pra desenhar junto ao chão

Uma figura alongada

Com anseios de amplidão.

 

Mas eu voltei velho sol

Voltei a velha querência,

Pra prestar referência

Ao palmo e meio de chão

E aquele velho galpão

Que a mão do tempo conserva

Como última reserva, da gaúcha tradição.

 

Voltei enfim pra rever,

A mim próprio nesta imagem,

Pra colher na passagem

Tudo que deixei ali...

Pois quando me for daqui

Para o céu tenho certeza,

Quero levar, que beleza

Meus brinquedos de guri