MEU CANTO DE BENQUERENÇA

Luis Lopes de Souza

 

Rude... mas para aqueles olhos,

eu saberei cantar...

meus dedos de sovar tentos

arrancarão acordes

mais suaves do que o vento...

esta alma machucada

por caprichos de mulher,

ficará tão perfumada

como a manhã orvalhada

em campos de mal-me-quer...

 

Amor...

pecado em forma de prece,

é a velha história de todos

que a todos, nova, parece...

 

Ao procurar a mim mesmo

razões pra novos matizes,

encontrei o acaso

do sol frio dos infelizes...

por isso, busco

inspirações extraviadas

nesse pequeno universo,

esse olhar traz o mistério

da plenitude do verso.

 

...esse instinto andarengo

fez mil negaças em vão,

dispersei vagos anseios

pra refugar nos rodeios

com rondas de solidão...

 

Tive um semblante de sombras

vazio, sem rumo e solito.

...uma clareira de sonhos

sigo agora despacito,

um luzeiro incandescente

com uma estrela cadente

a me guiar no infinito...

Na monótona quietude

dos bivaques do destino

ela enfeitando meu catre

todo o momento, imagino...

 

E eu... eu  me perco no delírio

do mais suave carinho

nesta barba ressequida

por sóis e pó,  dos caminhos

 

Na estranha insanidade

que é a lucidez da paixão,

fiz apartes de esperanças

em tropas de solidão,

...esta importância gigante

se apequena num segundo,

ao chamamento sublime

da voz mais linda do mundo...

 

Deusa...

nome pagão renascente

deste afã de andarengo,

que troca a fúria estradeira

pelo mais casto desejo,

de ter o riso na boca

o gosto doce de um beijo...

 

São devaneios...

consolando um pobre ser,

que jamais ganhará vau

no passo de um bem querer...

 

Sim...para aqueles olhos

eu saberei cantar...

O amor...pecado em forma de prece,

a velha história de todos

que a todos, nova parece...

 

Pois aquele que não ama

é fugaz, fraco e pequeno,

vagando a distância a esmo

é um campeador de si mesmo,

em noites de lua nova

chora gotas de sereno...