DEVANEIOS DE UM AMANTE SÓ...

 Luis Lopes de Souza

 

A nitidez dessa geada

prateando minha melena,

reflete o quadro das eras

inspirando em minhas penas.

 

Os caprichos do instinto

transfiguram meu semblante,

que ensimesmado se perde

na fantasia errônea

junto a um olhar desbotado

pela intempérie da insônia...

 

Teu vulto chega de manso

como um sublime fantasma

dos recônditos da noite...

 

No imediato de meu catre

minhas mãos se fazem amplas,

ora brandas, ora com ânsias...

querendo nesse sem fim

ir mais longe que a distância,

vou desvendando mistérios

dos lugares mais secretos

onde me perco inocente

em rumos não descobertos...

 

Lábios pálidos e cálidos

veteranos de volúpia,

outra vez se aventuram

em vertical direção,

vaqueanos que já conhecem

os atalhos da ilusão...

 

O devaneio insano

do ardente itinerário,

permite que vá além

dos pontos que descobri,

pra chegar aos escondidos

dos mais íntimos de ti...

 

Nesse máximo momento

de exotismo deslumbre

e mera imaginação...

Há dois corpos em um só

carne, alma e bem querer,

no mais sonoro dueto

do suspiro do prazer...

 

Depois te vais.... Lentamente...

entre as brumas do pecado

que cometi novamente...

E uma gota costumeira

que raro uma mão enxuga,

encharca o curso resseco

no rosto de outra ruga...

 

...acostumei a amar-te

ocultando meus desejos

e no cio carente da espera

perdoei a tua ausência...

Meu rosto mudou no espelho...

O olhar perdeu o brilho...

A melena criou geada...

O corpo já não é altivo...

O tempo foi me judiando

cauteloso mas redivivo...

 

A nitidez dessa geada

prateando minhas melenas,

reflete o quadro das eras

inspirado em minhas penas.

 

 Sim, envelheci...

Mas a quero ainda mais...

desafiando a realidade

de tudo o que já vivi..

ser teu homem, teu amante,

teu confidente e amigo

e chegar ao fim da vida

mateando junto contigo...