A RODA DA HISTÓRIA RODA

Luis Lopes de Souza

 

Desconforme e lerdarrona...

longeva genialidade

tracionando a história grega

nos longes da antiguidade...

 

O mundo ganhava rodas

e mil rumos para rodar...

 

...Moisés saiu do Egito

levando o povo hebreu...

...Roma cruza a Galiléia

até a Península Ibérica...

... Ramsés o faraó

combateu os filisteus...

 

A roda rude do tempo

revelou-se rediviva...

gerações se renovaram...

impérios viraram cinzas,

soberanos sucumbiram...

anseios contemporâneos

transformaram continentes,

escravizaram conceitos,

cruzaram raças de gente...

 

... Aliados cobiçosos

chegaram ao mundo novo...

... missionários redentores

batizavam curumins...

... bandeirantes desbravaram

pra rodados e cambões...

... bateias turvaram águas

enxaguando aluviões...

 

 Ajojo, broxa, regeira,

canga, muchacho e tamoeiro...

infindas léguas remotas

e o rangido varonil

das precursoras cambotas...

 

... A colônia virou império

mas nunca levou a sério

os monarcas cá da pampa...

clarinadas provincianas

retumbaram na distância...

... um barco cruzou rodando

as coxilhas da querência...

(e a carreta foi trincheira

pra escorar carga de lanças...)

 

Erva, charque e farinha...

Arrobas, cestos e surrões...

razões e rodas rodando

serras, fronteiras missões...

no paciente “eira boi”

um telúrico atavismo,

comboios ziguezagueando

num terrunho nomadismo...

 

... O império virou república,

a província virou estado...

... novas contendas provindas

de caudilhos malogrados...

carreteiros visionários

e anseios persistentes,

na mesma rota remota

seguiam indiferentes...

 

Mas... tribunos gritaram leis...

brazonaram “pergaminhos”...

importaram novidades...

cimentaram os caminhos...

e quem viveu estradeando

no tranco lerdo de sempre,

viu seu mundo rotulado

por arcaico e decadente...

 

Cogotes gastaram cangas...

regeiras rustiram mãos...

breques queimaram “tamancas...”

os eixos afunilados

foram ficando folgados

nas cambotas cambaleantes.

 

O ágil matou o lerdo...

a força bruta do boi

foi aos poucos relegada,

a carreta por refugo

perdeu o rumo na estrada...

... carreteiros com seus trastes

e mágoas salgando vozes

se viram ultrapassados

por rodados mais velozes...

 

Legalizaram atalho

pra o moderno itinerante,

e a imprevista transcendência

projetou novos trajetos

na primitiva querência...

 

... A roda real da história

segue rodando simplória

nos confins da realidade...

rangidos rasgam silêncios

em reverente saudade...

quarteando quatro milênios

na história da humanidade...!