Na Irmandade da Terra

 

Quando o dia floresce silente...

A clave de Sol mostra indelével sua tessitura.

As retinas inquietas procuram o firmamento

E formosa a moldura de um retrato antigo...

Vive o mosaico de além-mar que trago por dentro.

Na sinfonia do tempo andarilho ouço seus acordes...

E peregrinando horizontes volto nas lembranças.

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Altivos homens e mulheres aportam nestas terras

Para habitar, expandir e consolidar fronteiras.

Povoando os campos e defendendo o sul do continente,

Lagunistas fecham caminhos contra os orientais,

Singram várzeas e coxilhas abrigando sua gente.

 

A margem de um novo matiz na paisagem,

Pinto bandeira*desbrava terras fazendo reculuta

De cavalos e gado na extensão das vacarias do mar.

O relógio do tempo marcando o manto celeste...

Em compassos e rumores na sina de tropear.

 

Regida com a batuta dos ventos, notas em melodias...

Povoam a inspiração para cruzar caminhos largos.

O pensamento perde a calma...

A cada página vivida pelo habitante deste rincão,

Fazendo entrechoques por onde galopam distâncias...

No bater dos cascos que retumbam ecos pelo chão.

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E hoje, ficam na história e nos livros...

As páginas que buscam os grandes nomes

Do que os honrados e valentes curtos apelidos.

Quando uma batalha de inverno guarda o sol

E o tempo esconde as lanças de um guerreio

Um poncho céu sangra na baeta do arrebol.

 

O ciclo das horas inquieto a corroer à espera.

A palavra pelas artérias circula em resposta...

Como um poema de antanho escrito no hoje,

Imita a maçanilha que “jujando” mates de um novo dia

Faz o silêncio habitar a paisagem e engolir o olhar.

- O tempo é senhor da vida e do caminho -

Na linha do horizonte faz a luz reinar.

 

Em outro ciclo busco reminiscências

Dos que ficaram em marcas sobre a dura terra.

O ser humano que para os céus as pupilas retoça,

Vislumbra nas nuvens a chuva caindo em cristais...

E cada flor é luz e vida no aroma que remoça.

 

“Os de amanhã, ansiosos de passado e futuro

Hão de me encontrar no obelisco

Vigiando a província num tratado de paz!”**

 

Trago nas veias o gen de uma casta ancestral.

Serei a secular cancioneira na voz das novas eras,

A paradoxal estrela que fulgura a cada aurora,

Serei outra “Provinciana” na irmandade da terra!

 

 

*. Francisco Pinto Bandeira – Tenente do Corpo de Dragões,

Criado para guarnecer o Forte Jesus Maria José (1737)

 

**. Fragmento do poema “Provincianas...” De Luciano Salerno.