PÁSSARO DO MUNDO

Loresoni Barbosa

 


A razão desse riso ausente

Na palidez dos meus lábios,

é que trago alguns ressábios da vida

e uma saudade antiga, teimosa,

que  arranchou-se orgulhosa,

na lucidez dos meus olhos.

 

Mas antes de ser assim

tive a ternura das deusas,

e o coração brasa acesa

queimava dento de mim.

Tive pecados e anseios

crescendo com os meus sonhos.

- E esses olhos em brumas

pareciam duas luas

nuas no mesmo jardim.

 

Foi quando prestei minha vida

a um cavaleiro que vinha

inundar minha fantasia

e ancorar minha solidão.

Chegava como as tromentas

me amava com muita pressa,

depois, sem meias palavras

abria as asas cansadas

pra sumir na escuridão.

 

Mas, às vezes, diferente...

Chegava c’o a paz dos ventos

me amava com muito jeito

e o calor de um vulcão.

Depois, seguia as estrelas

deixando o clarão da lua

hospedando imagens suas

para iluminar o meu céu...

 

O tempo passou

e a luz que brilhou

na ilusão deste céu,

apagou com os ventos,

como se foram seus olhos;

Vazaram os meus...

- Ficamos eu e asaudade

nesta cidade inventada,

esmolando nas esquinas,

restos de amores e rimas

para compor-te um poema...

 

Encontro nos arrebóis

o mesmo brilho dos sóis

que refletiam teus olhos.

- É como ver teu semblante -

Mas logo chegam as noites,

e eu recontando estrelas,

descanso as pupilas velhas,

na pobre luz da minguante.

 

Então renasces das brumas

pra devolver-se em meu sonho,

a noite fria se aquece

e a lua grande aparece

para uma breve estadia,

tua sede em beijos sacia

teu corpo quente incendeia

o aroma desse momento

queima-me a boca que cala...

 

Porque você não me fala,

não fica até amanhecer?

Queria tanto te ver

nos arrebóis dos meus dias!

 

Pois...

Como miragem te vejo

a enganar os meus olhos,

como feitiço te tenho

enlouuecendo meus sonhos,

e como as marés te imagino,

semprea trair o menino

Inventor dos teus castelos.

 

És a quentura do vento

onde eu solto minhas pandorgas

és brisa das campinas

onde se abrandam minhas chamas.,

e logo, és o próprio mundo

que e u invento num segundo

para habitar meus poemas.

 

Me perdoem os poetas

se às vezes “quebro” algum verso,

é que me faltam estrelas

pra comparar num poema

todo o amor que me levas.

 

Como as aves peregrinas

buscando o sul no verão,

vão meus sonetos no tempo,

buscando calor das asas

que alaram teu coração.

 

Voa... Voa pássaro do mundo,

canta teu verso no espaço

mas pousa sempre em meu sonho,

que eu tenho um ninho em meu colo

pra relaxar teu cansaço...