O CICLO DAS MÃOS
Loresoni Barbosa
Estas rudes
mão que agosto intangue
Co’a benção das geadas ventanias,
Parecem fortes para as rédeas
cruas,
Mas são frágeis conchas a esmolar os dias.
Estas tolas mãos que hoje se
atrasam
Pra cevar um mate, fechar um
“crioulo”,
Não foram lentas para um
truco cego,
Nem foram fracas pra golpear
um touro.
Essa mania de buscar nos
mates
O vigor que outrora havia em
mim,
É só desculpa pra matear saudade
Já que a vida invade meus
sonhos no fim.
E eu sempre indago essa
vidinha buena
Que as
vezes se esquece que sou cerne duro,
E por deboche me convida ao
jogo,
Onde “invido”
a sorte com manilha e tudo.
Já perdi tantas mal-trucando
da vida,
Só ganhei ferias no meu
coração,
Perdi meus filhos que ganharam
rumos,
E ainda devo os sonhos dessa
solidão.
Pura bobagem esta insanidade,
De medir forças co’a
força do tempo,
Pois minhas mãos já são de
afeto,
De aço mesmo só as mãos que
invento.
Sim, hoje me pesam na bengala
amiga
As mãos de aceno para quem
partiu,
Deixando a alma na orfandade
plena,
Um rancho de penas e o pago
vazio.
Procuro o dono dessas mãos de
“ontonte”
Que esbrugavam talhas de
contar o gado,
Só encontro a sombra desse
peão artista,
Que perdeu de vista o sol de
seus quadros.
Nublaram-me os olhos de
alongar distâncias
E contar estrelas nas quinchas do céu,
Ficou mais longe a porteira
da frente,
Mas ficou mais perto a
querência de Deus.
Por onde andarão as milongas?
Que amansei nas rondas pra
soltar na voz,
Se o que sobra são apenas coplas
Ecoando nas grotas dos meus
sonhos sós.
Como me agradam esses sonhos
loucos
Que compõem as noites desse
mundo frio,
Neles, eu vejo tudo que
reclamo,
E os quadros que amo não
estão vazios.
Sim a querência enfeita a
nudez das telas,
Que pintei com as mãos de
esperança e fé,
Tudo perfeito pra emprestar à
vida,
Que hoje me foge sem dizer porque...