NA INOCÊNCIA DOS MATES

Loresoni Barbosa

 

Quando te foste pro povo

co’a mala cheia de planos,

logo achei que os desenganos

e rebencassos povoeiros,

te atropelassem de volta

pro nosso mundo de sonhos.

 

Sonhei minha vida a teu lado,

pois via em teus olhos claros

mares calmos pros meus medos.

Lancei meus sentimentos

nas águas dessa paixão!

E deixei meu coração

navegar com os teus ventos!

 

Te aconcheguei em meu ventre

sob a inocência da lua,

fui água pra tua semente,

fuga pra tua loucura

e me entreguei de alma nua

para ser tua companhia.

 

Não entendia os motivos

que te levavam daqui,

mesmo assim te fui parceira,

sovei tuas cordas pra lida

e amadrinhei teus sonhos,

que cavalgaram risonhos

para os repechos da vida.

 

Inundada de saudades

vigio as noites, procuro,

entôo canções à lua,

Componho versos pra ti.

 

Serão tão unidas as estrelas?

Ou, quem sabe até nos ares

elas torturem seus pares

gastando dias sem vê-las?

 

Por certo elas são donas

dessa paciência tão rara,

amar à distância,

na noite Clara.

 

Na inocência da espera

cervo um mate pra dois,

me achego perto a cancela

e, sorvo o amargo co’a ausência.

 

Ancorei meus sentimentos

para esperar os teus ventos

que, sopraram pro’ utros nortes.

Gastei minha mocidade

teimando com planos vagos,

pois os encargos são fardos

e, pesam mais que a saudade.

 

Aprendi nas noites longas

remediar meus sonhos sós,

reinventando esperanças,

sufocando minhas ânsias

de ter alguém a meu lado.

 

Guardei-me inteira pra ti,

busquei carinho em mim mesma

e dividi co’as estrelas

minha ternura contida.

 

Procurei num ombro amigo

o calor do teu abraço,

mas entreguei-me ao cansaço

sem encontrá-lo em meus dias.

 

Quando abrires a cancela

do corredor que te espera,

talvez encontre tapera

nosso recanto de amor,

assim sentiras a dor

de quem varou noites frias,

esperando por novos dias

sorvendo sem companhia

um mate que era pra dois.