MONUMENTOS


Lorezone Barbosa


 

 


Quem os vê na estampa - alma em bronze puro -

de lança e sabre descansado às mãos,

- meio soldados sob um talabarte,

meio gaúchos poncho e pés no chão -

não imagina que esta galhardia

de adornar as praças e acordar os dias

já estropearam fletes pra fazer Rio Grande

demarcando a sangue o mapa que nos cria.

 

Decerto a força deste criolismo que ainda hoje habita nos demais entono,

amparava a estirpe destes combatentes,

que enlutavam ranchos sem odiar o dono,

que deixavam vagos um lugar à mesa

e um vazio imenso nos olhares doces,

que amargavam lenços depois da partida.

 

Esses homens! ... Impregnados de patriotismo

e muita vergonha no semblante austero,

enrijeceram as colunas verdes

e partiram loucos para o “entrevero”,

com a perícia de bolear um touro

e o tutano qual um cerne “bueno”

- sobrando coragem pra avançar no inferno -

 

Nesse tempo, eu, que mal quinchara meu rancho

e mais sabia de potros, de planta, roça e capina,

via passar bem “despácio” homens deixando no rastro

a cor da carnificina, e o fio do aço a se gastar goelas,

pra fazer família no breu das trincheiras

e estorquir a honra da tropa inimiga.

 

Então, para seguir um caudilho também tapereei meu pago,

passando a morar somente, na orfandade eloqüente

de três corações partidos, e um a bater dividido,

entre o amor pelos filhos e ausência de seu soldado.

 

Desvirginei horizontes, tendo no azul das retinas,

o pardo-negro das noites que às vezes viravam dia,

quando avalanches de fogo desaprumavam os sonhos

e esfacelavam as frontes dos filhos da covardia.

- Nesta hora, é a vez dos que tem nos olhos a ira dos gladiadores

o peito por armadura e um fuzil por garantia. -

 

Quando o silêncio mórbido das catacumbas

nos fez descansar as armas e enlutar o espírito,

jaziam sonhos bonitos sobre o negrume dos campos,

lembrando as noites claras, a palidez das coivaras,

saudosas de suas cigarras, despidas de pirilampos.

 

Desfiz-me da dor do corpo, dos trapos e das feridas,

mas na alma inda tem vida a cicatriz das refregas

doendo em vão pesadelos, quando a noite por sinuelo

rouba meus sonhos amenos e me leva pras trincheiras.

 

Hoje, à sombra de um caudilho de centaura estampa,

numa praça onde me fiz de dono,

vislumbro os de mais entono que me vigiam de longe,

trazem na estampa o Rio Grande, e a galhardia dos fortes

que outrora fizeram Pátria - “Herança de heróis sem nome”