DOCE ELEGIA AO DOMADOR AUSENTE

Loresoni da Rosa Barbosa

 


Pela fresta da janela

onde te via passar,

transpassa hoje a saudade

que sempre acha teu rosto,

mesmo eu teimando

e querendo não te encontrar.

 

Relembro então teus abraços,

teus lábios doces de amar,

teu sorriso e aquele jeito

de achar o caminho certo

e ter na vida um lugar.

 

Assim de vi passar

Pássaro livre no espaço

com armadilhas no olhar.

 

Sob a quincha de um sombreio negro

morada avulsa de quem bate estribos,

um par de olhos “franqueiros”

-          da cor da pampa estendida –

refletiam ânsias de bagual teimoso

querendo esconder o toso

de quem já esporeou a vida.

 

-          Não que tivesse amansado –

com ela só se acostuma.

 

Mas quando as garras e as esporas

-          ferramenta de índio taura –

escoravam tua alma inquieta

no lombo de um mal domado,

o pago inteiro te reverenciava

pois era forte o santo que habitava

sob o céu da copa do teu mal tapeado.

 

Sim trazias o endosso da pampa

“nas de garrão” “tira cisma”,

-          benzidas com a graxa e cinza –

pra maldizer tempo feio,

e a força dos temporais

bem atada nos bocais

pra sofrenar teus anseios.

-          E eram tantos nesse tempo –

tempo todo primavera,

enquadrando na janela

os malinos que encilhavas

pra topar “co” a ventania,

e cada golpe no espaço

retemperava teu braço

qual aço em franca sangria.

 

Foi nesse tempo que teus olhos puros

vestiram afagos dos meus olhos moços

eu soube então de todos os abraços

que, mesmo breves, foram meu futuro,

-          paixão do mundo que habitou em mim

coração partido bem antes do fim –

 

Havia imparcialidade

no tom espesso da tua voz serena

que garantiram o meu bem querer,

nem o tempo nem a vida inteira

te farão ausente da minha aquarela,

nem dirão que sonhos eu devo viver.

 

Por ti meus olhos fecharam,

minha voz sussurrou,

o corpo inteiro tremeu,

-          mas, abreviaram minha alegria,

distanciaram-me da estrela guia,

minhas noites já viraram dia

e o meu sol ainda não apareceu...

 

A moldura da janela

saudosa de primaveras

ainda espera um retrato teu,

teus olhos verdes loucos de desejo,

a esmolar os beijos que já não são meus,

depois do mar de estribo

um até breve no gesto,

tirando a sombra do rosto

sem mais delongas, partias,

e o riso acima do ombro

eternizava esse quadro

pra encher minhas tardes vazias.

 

Agora aparece esta lembrança

embriagada de infinita ausência,

aos olhos dessa tela – que me foi parceira –

sou a primeira e a última na dor,

mas aos olhos desse eterno amor

dôo-me toda, saudade, silêncio, espera...

 

Assim eu te vi passar

Pássaro livre no espaço.