Terra

                                                                              Lauro Antônio Corrêa Simões

 


Há, na imensidão dos campos;

No sussurrar das águas de uma sanguita mansa;

No alvorecer do dia, repintando a vida,

um grito de esperança renascida...

Um grito que nos cincha,

na mais crioula trança!

 

Sim, terra baguala!

Nas mãos calejadas de rédeas e arados

dos homens campeiros, nas lides mais brutas,

plantastes raízes de amor e de luta,

que foram legados dos nossos avós.

E nas mãos das chinocas nos ranchos barreados

- cuidando suas roças pelos cafundós –

semeaste o carinho ao terrunho nativo

que segue bem vivo, cá dentro de nós!

 

Sim,

em cada touceira de capim que cresce;

Em cada “bibi” a ajardinar potreiros;

Em cada árvore a tourear rigores,

existe um grito que não emudece...

Existe um querer que nos aquece

a invernada inteira dos amores!

 

Oigalê campo velho!

Enquanto as ponteiras de aços templados

te riscam o lombo, fazendo sangrias,

abrindo-te artérias até o horizonte,

doada e serena, és terna e amiga

e pedes somente o suor dessas frontes

bronzeadas de sóis, pra o cio das espigas!

 

Sim, terra!

Em cada gaúcho plantastes sementes fecundas

de amor, de fé e ternura

e, mesmo naqueles que andejam malevas

cruzando as estradas por a Deus dará,

semeaste candura – nas mãos perigosas –

num tempo risonho de mãos de piá!

 

E, quando de cascos te ferem nas domas

e os rinchos de potros se vão ecoando,

lonjuras a fora, retumbas com força

nas grotas profundas as vozes campeiras

de alegres “farromas”,

nos ruflos dos palas e guizos de esporas.

 

Nas cercas de pedra que ao longe,

se perdem iguais cicatrizes de brabas peleias,

em tempos passados de guapos arranques,

és terra aguerrida, também nos rodeios,

nas covas-de-touro e ao pé dos palanques!

E assim,

quando os sons de doces guitarras

procuram as frinchas do vão das janelas,

levando nos dorsos mensagens singelas

do verso campeiro de um payador,

a terra mais linda, que é o pago da gente,

se abanca contente, sentindo as carícias

das franjas machaças de algum tirador!

 

Sim, terra baguala,

transitas nas veias, brotada em cacimbas

à beira das sangas do peito da gente.

E, as vozes se alçam no pampa e na serra

em versos paridos em volta das brasas,

que a alma tem asas, pra um canto de terra!

 

Porém,

quando as cinzas emponcham os campos

e a luz das queimadas alumbram coivaras

e inundam as várzeas de luto e pavor...

Então, o silêncio da terra é sentido

e cabe a pergunta:

- Que homem é esse que agride e não pára,

negando a sua terra, um pouco de amor?

 

Há, na imensidão dos campos;

Nas prosas galponeiras;

Nos risos das crianças;

Na alma das poesias, comovida,

um grito de esperança, renascida.

Um grito que nos cincha,

na mais crioula trança!