IMAGENS

                                                                   Lauro Antônio Corrêa Simões


      

Havia vastidão de verdes campos

pinceladas nas léguas de distância.

Havia a ilusão povoando os ranchos,

com homens, rudes homens sem ganância.

Havia lendas vivas... muitos causos,

vozes mansas dos velhos... brutas lidas.

Havia esta imagem, já esquecida

de inocência, no palco das estâncias.

 

Havia o parapeito destas cercas,

ombreadas pedra a pedra, por escravos

havia a solidão para os campeadores

e a gloria maior, para o mais bravo.

Havia a chinoca, entristecida,

solita, n'algum rancho de guerreiro.

Havia clarinadas e entreveiros

e a honra, era irmã do desagravo.

 

Havia tantas coisas nesses tempos.

Largos tempos de glórias imortais.

Fronteiras cabresteadas, quais as ondas,

sob as patas ágeis dos baguais

havia esta força, brio, coragem,

em cada rosto, em cada alma,

em cada estampa...

Um amor talvez maior que o próprio pampa

e hoje, quem me diz que não ha mais?...

 

A saga do Rio Grande continua.

Para orgulho de cada filho seu

A história retempera nossa gente

na imagem, e nos passos que já deu.

Nos versos dos poetas que te cantam,

a saudade que se fez reminiscência...

mas que rebrota novo amor pela querência,

na quietude sagrada dos museus.

 

De já hoje, nosso tempo é o presente

com  promissórias, avais, custos, tratores.

A vastidão de campos diminuída

nas partilhas dos herdeiros dos "senhores"

mas, se alguém os perguntarem debochados,

pela honra, pelo sangue dos farrapos,

ninguém dirá jamais que somos menos guapos,

porque enfrentamos agora outros valores!

 

De já hoje, a vida galopeia.

Depende do mercado, da inflação,

do capital, do emprego, da assistência,

produzir cada vez mais e mais pão.

- O pago é diferente, de já hoje!

 

 

O homem que chegou a andar na lua,

semeia, colhe, cria, continua,

e a paz, tornou vizinhos, mais irmãos!

 

Do amanhã, vislumbro a esperança,

contida no olhar da mocidade.

No crepitar dos fogões que sobrevivem

mantém-se com a mesma intensidade

o garbo telúrico dos jovens

num nítido painel, igual a outrora

e talvez prá nós, de hoje seja agora

o momento de também... deixar saudade!